Estou a escrever na segunda-feira, de forma que quando esta crónica sair já se saberá o resultado do primeiro jogo de Portugal na África do Sul, mas, por agora, resta-me esperar. Esperar para ver se, pelo menos, os jogadores terão a atitude que deles se espera, sobretudo perante as inequívocas e emocionantes provas de apoio e acarinho que continuam a receber dos portugueses, com uma palavra muito especial para os emigrantes. Disse-o e repito-o: claro que vitórias sobre vitórias será o ideal, mas o mais importante será os portugueses sentirem que os jogadores darão tudo. O resto é o jogo, imprevisível, e por vezes cruel. E estou convencido de que o primeiro jogo, a correr bem, será o rastilho que vai acender a festa que, este ano, anda bastante mais morna do que em anos anteriores. Parece-me que os portugueses estão, precisamente, à espera de perceber se vale a pena investir emoções neste grupo, dos jogadores ao seleccionador. Tenho quase a certeza de que se virmos uma equipa concentrada e ambiciosa, sem medos e com consciência da esperança que representam para milhões de pessoas, a festa voltará em força, com as bandeiras e a alegria contagiante. É só futebol, e convém não o esquecermos, mas é um período que compensa muitas outras tristezas. Nem a conquista do campeonato do mundo fará esquecer que atravessamos um período negro e dramático, nem se pretende que a festa seja a maneira de o esquecer ( o que daria muito jeito aos políticos). Mas a festa e as expectativas com os jogos são uma boa maneira de nos compensarmos um pouco, sabendo que não são o mais importante da vida, mas que representam um lado lúdico que sabe bem. E, na falta de soluções práticas para problemas reais, que haja ao menos momentos em que celebramos, e que a vida parece menos difícil. Não se trata de alienação, ou de varrer a realidade para debaixo do tapete. Trata-se de a tornar, por uns tempos, mais suportável.
2- Algo me diz que esta história do Nani ainda vai fazer correr muita tinta, talvez só depois do fim da prova (ou da eliminação portuguesa). É um episódio estranho desde o início, e ainda mais misterioso se tornou com a chegada do jogador a Portugal, altura em que disse aos jornalistas que deve estar recuperado dentro de uma semana. Ora, fazendo as contas, daria perfeitamente para manter Nani na selecção, pois só falharia o primeiro jogo com a Costa do Marfim. Depois, a julgar pelo que disse o jogador, já estaria em condições de defrontar a Coreia e o Brasil, e o mais que se seguirá (esperamos). Basta fazer a comparação com Drogba, de braço ao peito por causa de uma fractura (lesão muito piro que a de Nani) e que nem por isso deixou a selecção, mesmo que não jogue o primeiro, ou os dois primeiros jogos. Das duas, uma: ou Nani não sabe do que fala quando diz que estará recuperado numa semana, ou saiu da selecção por razões que não têm a ver com a lesão. Esperamos vir a saber, para que esta campanha da selecção não fique manchada por suspeitas e mistérios, e logo em volta do jogador que demonstrava estar mais em forma.
3- Gosto bastante do Toni. Conheci-o em trabalho e entre nós ficou para sempre um respeito mútuo e uma amizade bem-humorada. É por isso que me custa criticá-lo, mas confesso que não gosto nem um bocadinho de o ver na pele de espião de Eriksson. Sei que são muito amigos, mas o "pequeno pormenor" de as suas funções incluírem dar indicações da nossa selecção ao adversário faz toda a diferença. A diferença que o deveria ter levado a recusar o papel. Ou a só assumi-lo depois do primeiro jogo.