25 dias, 9 viagens de avião, 8 alugueres de carro com o respectivo GPS, 7 check in em hotéis, duas directas, 3000 kms de estrada, 26 reportagens, 2 Alta Definição, e mais uma série de dados imperceptíveis que me fazem lembrar uma frase que o Cristiano Ronaldo muito costuma dizer: "Parece fácil!". Na verdade, fazer a cobertura de um campeonato do Mundo, procurando descobrir histórias que respirem Mundial, mas que não tenham golos, que não se fundamentem no que está garantido com hora e local marcados é mais complexo do que parece. É certo que as pessoas que aqui estão ou vêm à África do Sul estão mais predispostas a gerarem um bom conteúdo televisivo como daquela vez em Port Elizabeth, antes do primeiro jogo de Portugal neste Mundial contra a Costa do Marfim, em que estávamos a fazer tempo para o jogo e decidimos ir até a um pontão na principal praia da cidade. Olhámos para baixo, para o areal e encontrámos um dos mais habilidosos artistas que nos apareceu pela frente aqui na África do Sul. O David, com um simples ramo de uma árvore fazia desenhos na areia, absolutamente extraordinários e proclamava a paz, alegria e amor neste momento em que povos de todo o mundo se apresentam uns a outros. Mas quem vir o Alta Definição do próximo sábado, por exemplo, vai ter contacto com um programa inteiramente selvagem, no meio dos leões, tigres, elefantes, rinocerontes, hienas, que visualmente está muito forte (um grande trabalho do Bruno e do Jorge mais uma vez), mas que para o qual foi precisa uma dose de paciência grande, para esperar que os animais em ambientes naturais façam o que nós pretendamos que eles façam, às vezes apenas que se mexam para 5 segundos de imagem em 30 de minutos de espera. Ou então, melhor ainda – como aquela anedota "mãe, olha agora sem mãos" – fazer uma visita a jovens leões, depois do horário de expediente e mesmo depois de avisados pela tratadora que os bichanos estavam a ficar com fome, "pois está bem e o que é que metemos no ar no programa?" entrarmos os três para gravar o que se vai ver. Até que, já na despedida, uma leoa – tão querida – estava, digamos, com fome e com vontade de brincar e achou que se vincasse as suas delicadas garras nas minhas costas e me desse um abraço sentido e manifestasse a sua gula, eu até gostaria… Pois claro… Como diz aqui o Jorge, com esta marca, já posso dizer aos meus filhos ou sobrinhos – de quem, aliás estou dilacerado de saudades – "sabes, um dia, em África fui atacado por um leão".
Esta tarefa para este programa especial obrigou-nos a viajar por três locais diferentes da África do Sul, de Joanesburgo a Pretoria, para que o trabalho fosse completado e complementar. E isto a decorrer em linha de vista com as reportagens que enviamos diariamente para o Companhia das Manhãs, com as deslocações com a selecção nacional e com… aquilo, como é que se chama?… aquela coisa que fazíamos dantes… lembro-me que sabe tão bem, está a faltar-me o nome… é quando a pessoa fica assim esticada…DORMIR… é isso, DORMIR.
Deixámos o hotel de Magaliesburg na manhã do passado domingo, agradecidos pela forma como nos receberam de urgência na sequência do assalto que hotel onde estávamos inicialmente sofreu dias antes do arranque do Mundial. Num momento tão delicado, não esqueceremos a forma familiar e quente com que nos receberam, num ambiente tão gelado de perspectivas como de clima. Será também talvez o único hotel em que estive ou estarei em toda a vida com grades nas portas e nas janelas. E atenção, que isto não é uma reclamação, antes pelo contrário, estas grades são responsáveis por noites de sono muito descansadas.
Há pelo menos mais duas coisas de que não me esquecerei aqui de Magaliesburg e deste hotel em particular: Pudim de Malva, uma sobremesa sul-africana que é um sonho. Eu de receitas percebo tanto como de conservação de geribérias em estufa, no entanto posso tentar explicar a memória do paladar; trata-se de um saboroso e suculento pudim, de origem holandesa, com uma calda cremosa de baunilha, caramelizada e com um toque de xarope de canela, servida sempre morna em cima de um delicioso pedaço de bolo de um sabor à nossa escolha. Mesmo com uma descrição tão detalhada quanto possível, posso garantir que o sabor é ainda melhor do que a imaginação consegue alcançar. Outro dos motivos pelos quais não me esquecerei deste espaço aconteceu no dia em que regressámos do jogo com a Coreia. Os gerentes do hotel tinham preparado uma recepção de felicitações à prestação nacional com um cartaz afixado na mesa de jantar. Soube-nos bem.
Como tão bem sabem igualmente as histórias que já nos vão obrigar a pagar excesso de bagagem quando regressarmos a Lisboa e que podem começar na zona de saída do aeroporto de Joanesburgo transformada num mini estádio até ao próprio estádio de Durban ao qual só chegámos meia hora depois do inicio do Portugal-Brasil, devido ao trânsito, que também ele pode ser muito interessante.
Esta semana, devido ao Portugal – Espanha, voltámos à fantástica Cidade do Cabo. O tanto que eu quero vir cá no Verão não está escrito em lado nenhum. Agora está. E é para cumprir.