Diz-se que morreram os seis numa praia do Meco. Diz–se que foi uma praxe ou uma iniciação da praxe. Mas até ao momento não há qualquer facto que o garanta. Alguns debates no meio estudantil replicam a pergunta: faz sentido morrer ou ser humilhado em nome da praxe?
Nada feito
Até à semana passada, o Ministério Público (MP) não investigou o areal nem a casa de Aiana de Cima, perto do Meco, onde tinham estado os estudantes, por ter considerado não existir evidência de crime. O Dux ainda não foi ouvido, mas várias testemunhas contam ter visto os estudantes a rastejar com pedras amarradas aos pés e a fazer flexões na lama, durante aquele fim de semana. Antes de entrar na Comissão de Praxes, os estudantes tinham de assinar um termo de responsabilidade que ilibava os elementos da organização das actividades de praxe de qualquer culpa, em caso de acidente. Mas a Lei não é assim. Ninguém pode dispor da vida. O caso da tragédia do Meco foi transferido para o MP de Almada, que chamou a si a coordenação do inquérito e declarou o segredo de justiça.
Segredos
tragédia.meco@gmail.com. É a conta de correio electrónico criada pelas famílias das vítimas. O objectivo é criar uma alternativa ao silêncio de João Gouveia, único sobrevivente da tragédia do Meco, em que seis estudantes perderam a vida em 15 de Dezembro último. As famílias dizem que esta morada serve para todos poderem, de forma anónima ou não, partilhar detalhes ou factos que possam ajudar a perceber o que aconteceu de facto naquela fatídica noite. As famílias dos seis estudantes da Universidade Lusófona continuam a não querer accionar judicialmente ninguém. E mantêm ainda a intenção de perceber a emoção de João Gouveia, o Dux. As informações recolhidas deverão ser carreadas para a Justiça.
Família do Dux
Na sexta-feira, dia 24, a família de João Miguel Gouveia, o único sobrevivente da tragédia, enviou à agência Lusa um comunicado onde afirma que o Dux prestará todos os esclarecimentos no “local certo e perante as instâncias competentes”. Os familiares de João Miguel Gouveia sustentam que “desde o primeiro dia, mesmo em choque, o sobrevivente colaborou com as autoridades”. E avança com uma versão do que terá acontecido: “Sem que se apercebessem, uma onda, de grandes dimensões, arrastou–os a todos e o desastre aconteceu. Seis jovens perderam a vida e um deles, depois de muito esforço, conseguiu arrastar-se até à areia e, de um dos telemóveis que tinham ficado junto dos objectos que tinham pousado inicialmente, conseguiu pedir socorro para o 112, tendo ficado em exaustão, a vomitar e em hipotermia progressiva, prostrado na areia”. Sobre o silêncio do Dux, a família justifica que a tragédia exigiu “tempo para o luto e para tentar integrar tão dramática experiência”. Quarenta dias depois da tragédia, seguida de silêncio do seu ente querido, a família do Dux expressa no comunicado indignação sobre “especulação, notícias sem explicitação de fontes credíveis e construídas com base em comentários de quem nada sabe sobre os factos ou mesmo assentes em mentiras claras e contradições óbvias, que apenas criam alarme social”. A família do sobrevivente “agradece o apoio disponibilizado pela universidade desde o primeiro dia, até à presente data”.
Pais das vítimas
Em declarações à Lusa, António Soares, pai de uma das vítimas, disse estar agastado com o comportamento dos responsáveis da Universidade Lusófona, assegurando que, ao contrário do que terá sido divulgado pela reitoria, não recebeu “nem apoio psicológico nem sequer uma palavra de conforto”. O pai de Catarina Soares afirmou no Facebook: “Uma coisa tenho a certeza, pela memória da minha filha, nada mesmo nada vai ficar por esclarecer”. À Lusa, lamentou ainda que a universidade só tivesse decidido a realização de um inquérito 40 dias depois dos factos e considerou “estranho” que o jovem sobrevivente esteja a ser acompanhado por elementos da própria Lusófona e não por técnicos independentes.