Os familiares dos seis estudantes falecidos numa praia do Meco, Sesimbra, anunciaram ir avançar com uma queixa-crime por homicídio por negligência contra o sobrevivente João Gouveia, a Universidade Lusófona e desconhecidos. A decisão foi tomada poucas horas depois da reconstituição da tragédia feita pela PJ, com a presença do sobrevivente. O advogado dos familiares das vítimas, Vítor Parente Ribeiro, explicou que a decisão teve por base diversos factores, como desde não ter resposta ao pedido de constituição de assistentes no processo até à “série de elementos” que recolheram e entendem ser “matéria criminal”, entre outros.
Dúvidas de pai
O pai de Tiago Campos , o jovem de 21 anos, recém-licenciado, cujo corpo apareceu ao raiar do dia 15 de Dezembro, após a tragédia, mostrou-se indignado com o silêncio do único sobrevivente e afirmou domingo, dia 16 de Fevereiro, à SIC querer que o único sobrevivente da tragédia “fale. Porque, afinal, quem não deve não teme. Ele disse-me que era um fim de semana para combinarem as praxes para este ano. E que haveria uma outra reunião já este mês de Fevereiro”. José Carlos Campos disse acreditar que, “provavelmente, se tratou de uma brincadeira que correu mal em que morreu o meu filho!”, revelando acreditar ter sido uma coisa relacionada com a praxe. “A cada dia que passa, o silêncio [de João Gouveia] vai-me obrigando a acreditar que não foi um acidente”, continuou. Já na TVI, José Carlos Campos acusou a Universidade Lusófona de ter aconselhado o único sobrevivente da tragédia a manter-se em silêncio. “A Universidade Lusófona, até hoje, não nos fez um telefonema, a ver se era preciso um psicólogo para nós pais, familiares. Só ouviram o João Gouveia.” O pai de Tiago Campos disse ter dúvidas sobre algumas circunstâncias, afirmando que “há detalhes que não batem certo”.
Telefones & telefones
As famílias das vítimas querem que a PJ analise o conteúdo do telefonema de socorro feito na noite da tragédia ao 112. Afinal, quem fez de facto o telefonema? De que telefone? A que horas? O que é que foi dito de facto? E querem que isso seja cruzado com outras declarações e elementos apurados depois. Para Vítor Parente Ribeiro, advogado das famílias das vítimas, este telefonema poderá permitir esclarecer muito. Por exemplo, uma peritagem à localização celular de telemóveis naquela zona pode ajudar a apurar se havia outros membros do Conselho de Praxes na praia e/ou na casa alugada. Se havia ou não telefones secretos exclusivos a contactos entre membros do COPA (Comissão Oficial de Praxes Académicas) é outra das dúvidas dos familiares que podem ajudar a perceber quem mandou fazer o quê. Se houve ritual, praxe ou não.
Relatos
Diversos vizinhos contaram a diversos orgãos de comunicação social as actividades que viram os universitários desenvolverem, nos dias e horas antes da tragédia. Num terreno baldio perto da casa que tinham arrendado naquele fim de semana, os jovens, vestidos com o traje académico, dedicaram a tarde a rastejar com pedras presas aos tornozelos. As invulgares atitudes sob a orientação do dux João, que permanecia de pé e de colher de pau gigante em riste, originaram abordagens de moradores que obtiveram como resposta: “Isto é uma praxe”.
Mistério
O secretismo e o silêncio revelados pelo único sobrevivente continuam a adensar o mistério e as dúvidas nos familiares das vítimas que exigem resposta:
– Quem define e porque existe o “segredo” da praxe?
– Quem tem os códigos da praxe e porque não são públicos?
– Quem estava mobilizado para aquele fim de semana e porque faltou?
– Quem esteve de facto alojado na moradia e quem esteve de facto na praia?
– O que estavam de facto a fazer quando desapareceram no mar?
– Qual a função do dux nos rituais vistos naqueles dias?
– Que produtos consumiram os estudantes antes da tragédia?
– Quem mexeu, retirou da casa e distribuiu os pertences dos estudantes naquela madrugada?