1 – Já o tinha previsto, mas também não é preciso ter grandes dotes de adivinho: a campanha eleitoral tem tanto de Europeias como um vegetariano tem carne no prato. É apenas, e naturalmente, mais uma oportunidade para bater todos os dias nas mesmas teclas que já são batidas no Parlamento ou nos debates televisivos. Os partidos políticos vivem na ideia de que as pessoas são surdas, ou, no mínimo, de compreensão lenta. As televisões, depois de muitos avanções, recuos e amuos por causa dos espartilhos da lei, acabam por fazer a vontade aos candidatos. Acompanham-nos, literalmente passo a passo, durante um dia inteiro. Depois, é apenas uma questão de mudar conforme o local que se visita. É uma lota? Ouve-se os pescadores dizer que o governo não dá subsídios, e o candidato concorda, e refere que já anda a dizer o mesmo há muito tempo. É uma quinta de um pequeno produtor que faz vinho? Uma vergonha, não há subsídios. O candidato concorda, pisca o olhos às televisões, diz que o seu partido anda a lembrar isto mas ninguém quer ouvir. Ah, mas esperem…desta vez o candidato é de um partido da coligação do Governo? Então neste caso o candidato não concorda, mas compreende perfeitamente o desespero, e verifica se as televisões estão a filmar quando diz ao produtor que o Governo está bem ciente das dificuldades, mas que tem de pensar, por outro lado, que já estivemos pior e que o caminho, agora, é sempre a melhorar, algo que se deve, naturalmente à acção do Governo, que, diga-se, recebeu a economia de pantanas porque o anterior Governo foi imensamente irresponsável. Se não há palco tão marcado como as pescas ou agricultura, calçado ou pequeno comércio, avança-se para a mensagem mais geral: a culpa é da troika e do Governo que se ajoelhou perante o pacto de agressão, dizem uns. E os outros logo respondem: pois, mas foi o anterior Governo que deixou isto de tal maneira que a troika teve de vir para cá, nós devíamos era ser saudados porque, apesar de tudo, tornámos possível a esperança num futuro melhor, depois de batermos no fundo. Europa? Parlamento europeu? O que lá se pode ou não fazer? Não fazemos ideia. Se o leitor souber, se conseguir compreender, avise. E domingo vote. Sim, claro que votará como se fossem legislativas. Toda a gente sabe que é assim. Mas de tempos a tempos fingimos que é outra coisa.
2- Grande e glorioso, o Benfica volta a dar alegria a milhões. É uma marca, mais que um clube, das mais fortes que o país tem. Mas, também mais uma vez, volta a morrer na praia europeia. Como olhar para isto? Copo meio cheio ou meio vazio? Que vergonha, nunca conseguir vencer uma final de uma competição europeia? (a não ser há mais de 50 anos?) Ou então, que orgulho, mais uma vez presentes numa final onde tantos gostariam de estar e não conseguiram? É desta matéria que se alimentam jornais da especialidade, fóruns na internet, debates na televisão, e conversas no café. Ficam, curiosamente, duas verdades. O Benfica vai conseguindo o que outros clubes não conseguem, afastando adversários estrangeiros um a um. Depois falta-lhe aquele pedacinho assim. Os adeptos vão engolindo, e saúdam a equipa pelo esforço e dedicação, pela falta de sorte, insultam o árbitro que roubou ( e roubou mesmo). Mas chega?