É “muitíssimo provável não” ter sido Angélico. A conclusão é de dois especialistas do Laboratório de Polícia Científica (LPC) da PJ e a expressão “muitíssimo provável não” é o máximo de uma escala. Desde Novembro de 2011 que o Ministério Público da Póvoa de Varzim tinha indicações para apurar a eventual prática do crime de falsificação de documentos (assinatura de Angélico). As perícias foram iniciadas no LPC a 24 de Junho deste ano. O objectivo foi apurar se as assinaturas dos registos de automóvel e propostas de compra e venda foram ou não escritas pela mão do cantor. Três anos depois da dúvida, as perícias dizem que as assinaturas suspeitas indiciam terem sido feitas por tentativa de imitação e dão como “muitíssimo provável não” serem da autoria do cantor.
Indemnizações
Decorrem três acções cíveis exigindo indemnizações. Não chegou a haver processo crime por morte do culpado, mas isso não inibe a responsabilidade no processo cível. O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Baixo Vouga – Aveiro, já deu como adquirido que o BMW seguia em excesso de velocidade (mais de 200 km/h) e que isso imputa responsabilidades ao seu condutor – Angélico. Dura lex sed lex. [“a lei (é) dura, porém (é) a lei”]
De quem é o BMW
Se a assinatura de Angélico for dada como falsa o negócio é nulo. Caso se prove não ter sido o ex-D’ZRT a assinar os documentos, os negócios são nulos e nesse caso os pais de o cantor terão de devolver carros e dinheiro à Auguscar, designadamente um Jeep Compass preto que o cantor tinha adquirido por 18 mil euros àquele stand quando fez o negócio do BMW 635D cabriolet. Na época a tvmais deu a notícia do jeep ter sido entregue pessoalmente à mãe do músico pelo proprietário do estabeelcimento (Augusto Fernandes) ainda na primeira semana de Agosto de 2011, no Laranjeiro (Almada). A menos que a aquisição do jeep tenha sido dada como válida e a do BMW não.
Letra protestada
Certo é que os pais de Angélico nunca reconheceram a letra do filho no contrato com o stand Auguscar de onde saiu o BMW 635D cabriolet em que se despistaram. Por isso consideram que o carro não era propriedade de Angélico. Paulo Fonseca, no programa “Querida Júlia”, da SIC (12 de Dezembro) também disse: “Aquilo não é a assinatura do Sandro [Angélico]”. Talvez por isso, o LPC tenha avaliado duas assinaturas de duas pessoas ligadas ao stand. Os especialistas não obtiveram no entanto quaisquer resultados conclusivos.
Versões polémicas
O único sobrevivente que saíu ileso, Hugo Pinto, disse em 26 de Junho de 2011, ao “Correio da Manhã”: “Saltou uma roda, e o Angélico só teve tempo de gritar para nos salvar”. Depois mudou de versão e a 30 de Junho (TVI) disse que se tratou de um “erro mecânico no eixo da roda traseira do carro”. Depois remeteu-se ao silêncio. Mais tarde foi retirado do rol de testemunhas. Acabou por nunca falar em juízo. Um enigma.
GNR diz que Angélico autorizou
O auto de notícia, preenchido por um GNR, está todo rasurado e cheio de erros. Além das rasuras visíveis, tem várias descrições falsas ou erradas: 1- Fala de “despiste seguido de atropelamento de passageiro por outro veículo”, coisa que a autópsia a Hélio desmente. 2 – Sobre o veículo no 1 refere a “Companhia de Seguros Auguscar”, rasura, e à frente escreve “Império”. 3 – Aponta uma apólice de seguro inexistente para o BMW acidentado. Verificou-se depois que a apólice referida pelo GNR cobria um Porsche Cayenne. 4 – Designa o carro acidentado como um BMW 563c quando o verdadeiro modelo é um 635d. 5 – Refere que o veículo (BMW) foi removido por ordem do condutor. Ora, todos sabemos que o condutor era Sandro Milton Vieira Angélico e estava em coma.
Onde estão as assinaturas
Eram 15.05 h quando foi concretizado um negócio (quatro dias antes do despiste), conforme a factura no 107, a declaração de Circulação, emitidas pelo stand Auguscar e a nota de Compra e Venda no 524 (todas com data de 21 de Junho de 2011) e ainda no Termo de Responsabilidade do Cliente. Em todos surge uma assinatura que se supõe ser de Sandro Milton Vieira Angélico. Nesses documentos vem descrito que o cantor deu um Ferrari Modena (com caixa de velocidades partida), avaliado em 60 mil euros e um Audi A4 cabriolet (acidentado), avaliado em 20 mil euros. Em troca, recebeu o BMW 635D, preto, avaliado em 80 mil euros. O Banco Português de Negócios (BPN) tinha uma reserva de propriedade sobre o veículo, mas Angélico pagou-a e tinha ainda 30 dias para o registar” (conforme contámos na edição no 973). Em todos os documentos constava uma assinatura de Angélico. Os peritos dizem que não foi ele quem assinou o registo.
Perícia de Escrita Manual
As Perícias de Escrita Manual feitas no LPC apuram a autenticidade de uma determinada assinatura em contratos, assinaturas, cheques, ou textos escritos de forma manual. Os “CSI” portugueses usam diversas técnicas, diferentes tipos de luz, sistemas ópticos e informáticos, observam a tinta escrita, a força, os ângulos, as repetições, a ligação, a dimensão da letra e outros pormenores identificativos da escrita de cada um. E também as comparam com escritas de outros suspeitos. No final emitem um parecer que pode ir de: “Muitíssimo provável”; “Muito provável”; “Provável”; “Provável não”; “Muito provável não” ; e (como foi o caso da assinatura de Angélico) “Muitíssimo provável não”.