Três meses após a morte de João Ricardo, chega às livrarias o livro que o autor estava a preparar. “Os Dias que (Não) Contam” é o título desta biografia que promete várias revelações sobre a vida do artista. “Sou ator há 40 anos, mas já o era muito antes de o ser”, escreve no início deste livro no qual admite que teve uma vida difícil e que a sua maior paixão foi o filho, Rodrigo Ricardo, que irá apresentar a obra no dia 22 de fevereiro, em conjunto com os atores Paulo Oom e Custódia Gallego, no Teatro A Barraca.
Infância difícil
Ao longo destas páginas, João Ricardo partilha as suas memórias. Aos 9 anos, o pai obrigou-o a trabalhar numa fábrica de caixas, depois numa pastelaria, aos 12 anos, era ajudante de motorista, e depois nas obras – trabalhou na construção das Amoreiras..”Era um adolescente de 16 anos, frustrado, magoado, carente, vazio. Um dia, depois de mais uma vez chegar às horas marcadas, tivemos uma discussão. Foi a primeira e a única vez que me bateu. Atirou-me uma faca que passou (bastante) ao lado. Acredito que não me queria acertar mas tornou a situação insustentável”. Saiu de casa nessa noite. Crescera sem mãe – “uma mulher lindíssima, das mais bonitas que conheci”, que vê quatro ou cinco vezes até aos 20 anos – e com a paixão pela avó Joana que nunca mais vê. “Tenho muito da aldrabice da minha avó. Éramos uma família de aldabrões e forretas. Foi ela que me ensinou o medo. E agora, muitas vezes, quando o medo chega, é nela que penso. Na forma como me enraizou o medo, para que ele não me pudesse apanhar nunca. Costumo dizer que não tenho medo de nada – mas que sou um grande maricas.”
Vida de dificuldades
Sem-abrigo, João recusa que tenha sido um “coitado”. “Sim, houve alturas em que não tive nada. Mas também houve outras em que tive tudo. Sim, a vida tirou-me muito. Mas tirou tudo o que devia tirar na altura certa e deu-me tudo o que eu queria na altura certa. Fez de mim quem sou. Um homem que tem tanto de bom como de mau embora goste de acreditar que tenho um bocadinho mais de bom que de mau.”
Carreira e doença
Autodidacta na representação, quis recusar o papel de Armando Coutinho, na novela “Laços de Sangue”, a sua personagem mais conhecida. Em outubro de 2016, sentiu-se mal durante as gravações da novela «Rainha Das Flores», da SIC, onde trabalha em exclusividade desde 2010. Foi internado no Hospital de Santa Maria e operado a um tumor no cérebro. Voltou ao trabalho para integrar uma novela da SIC, «Espelho d’Água». Morreu a 23 de novembro de 2017, sem concretizar o sonho de atravessar a nado o estreito de Gibraltar.