Conheciam-se há muitos anos, já tinham trabalhado em outros projetos, mas “Golpe de Sorte” veio aproximá-los ainda mais. Na hora da despedida, Ângelo Rodrigues quebrou o silêncio ao fim da noite desta quinta-feira para recordar o momento em que Maria João Abreu correu mundos e fundos para o poder ver quando também ele lutou pela vida no Hospital Garcia de Horta, em Agosto de 2019. “Quiseram as circunstâncias que ficasses no hospital onde estive, com as mesmas pessoas que me salvaram a vida. Naquela altura, fatídica para os que privaram de perto, foste a única pessoa do elenco que conseguiu driblar os seguranças e me visitou. Isso, confesso, tocou-me profundamente. “É para ir ver o seu filho?” – perguntou-te umas das enfermeiras. Não era segredo, o que nos unia ultrapassava o mero exercício das nossas profissões”, lembra.
Emocionado, o ator escreve ainda: “Quem pôde conhecer-te na tua real dimensão sabe que o virtuosismo era um pormenor. Portugal pode elogiar-te o talento, mas toda tu eras amor incondicional, inteiro e desmesurado. Isso está acima de qualquer ofício que possamos ter em vida”. Sobre esta perda, Ângelo Rodrigues é perentório: “Levarem-te pode parecer-nos a maior injustiça, porque nos custa reconhecer o carácter inexorável da morte, mas há algo que nunca desaparecerá – o teu maior legado, o dos afetos. Viverás na memória de todos sempiternamente até ser, por fim, a nossa vez de partir. O maior Golpe de Sorte foi ter tido a honra de te conhecer. Obrigado”, finalizou.