Tudo começa com o Volkswagen Passat CC que circulava na via da direita. A que velocidade circulava? Estava parado? Quem tomou conta do carro após ter sido apreendido? Porque foi feito tão tarde o teste de alcoolemia? A investigação que fizemos levanta questões diversas que podem mudar a visão jurídica sobre os factos ocorridos naquele sábado de confinamento. Há circunstâncias confirmadas pelas diversas testemunhas já ouvidas. No último 5 de dezembro, às 18.35 h era já de noite, chovia e havia visibilidade bastante reduzida.
Trecho de reportagem publicada na revista TvMais edição 1492.
O primeiro choque
A fadista Cristina Branco tinha entrado na autoestrada A1 em Santarém, no sentido Porto-Lisboa. Levava consigo a filha de 10 anos. A chuva deixava a visibilidade reduzida, mas os máximos do Volvo V50 do seu companheiro iluminavam toda a via da direita onde seguiam. Já próximo da saída para o Cartaxo, cerca do km 61 (perto da Póvoa da Isenta), deparou-se com um Volkswagen Passat CC (VW) na mesma via.
Não há (ainda) relatório final
Ninguém sabe a que velocidade ia o Passat porque ainda não há resultado final sobre a velocidade a que seguiam os carros. As perícias do Laboratório de Polícia Científica (LPC) feitas às centralinas (ver caixa) dos carros envolvidos foram inconclusivas. A GNR está a ultimar em laboratório as conclusões sobre perícias feitas recentemente na A1. O relatório final ainda está na GNR e não no Ministério Público (MP). A TvMais sabe que foi pedida uma nova prorrogação do prazo, por via destes testes do Laboratório da Polícia Científica não estarem ainda concluídos. Este relatório final deverá ser entregue no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) de Santarém quando forem concluídos os testes que a GNR estará a fazer para se apurar as velocidades a que circulavam as viaturas envolvidas no acidente. Fonte ligada ao processo diz-nos que uma velocidade entre os 140 e os 160 é provável no caso do Evoque.
O segundo acidente
Minutos depois de o V50 de Cristina Branco se ter imobilizado virado ao contrário (para norte) na faixa do meio, vislumbra-se nas imagens da Brisa o Range Rover Evoque de Sara Carreira, conduzido por Ivo Lucas. A olho, vê-se que circula a uma velocidade superior à dos carros anteriores. Sem travagem visível, o Evoque bate de frente no Volvo, levanta voo e, numa pirueta, vai cair com o lado do pendura sobre o separador central da faixa (betão). O que terá provocado a morte imediata de Sara Carreira. O Evoque continua às cambalhotas (quatro) e pára 100 metros à frente, ficando atravessado na via da esquerda. Ivo sai do Evoque e tira a T-shirt. Está confuso. Fica em tronco nu.
Um Fiat e mais dez
Depois disto vem um Fiat Marea que evita os dois primeiros carros sem embater, contudo, não conseguiu desviar-se do Evoque, raspando-lhe de leve. Vem a imobilizar-se à frente, já em chamas, mas sem consequências para o seu condutor, que sai ileso. Apesar de o acidente já ter quatro carros envolvidos, ainda passam depois dez viaturas sem tocar em qualquer dos acidentados, incluindo um pesado de passageiros. Começam, entretanto, a chegar as equipas de socorro. Nas imagens da Brisa não há quem aviste o condutor do VW Passat.
Ivo foi operado
No local, a preocupação de Ivo é Sara, dizem diversos testemunhos. Está confuso. A pancada forte que sofreu na cabeça terá provocado traumatismo. Não se calou a perguntar pela namorada ainda no local do acidente e depois quando entrou a gritar por Sara no Hospital de Santarém. Terá percebido que a sua namorada, filha de Tony Carreira, tinha falecido. Foi depois transferido para o Hospital de Santa Maria, onde foi operado ao pulso com sucesso.
Condução desadequada
A investigação e interrogatórios da GNR, bem como as perícias do Laboratório de Polícia Científica (LPC) às centralinas (inconclusivas) das viaturas envolvidas no acidente, considerando as condições da via e da meteorologia, apontam para uma circulação em velocidade excessiva do carro de Sara Carreira conduzido por Ivo Lucas. De referir que a velocidade excessiva não está relacionada com o limite imposto pela lei nas autoestradas (120 km/h). A velocidade excessiva difere do excesso de velocidade conceptualmente. Excesso de velocidade é ultrapassar os limites legais de velocidade impostos por lei. A velocidade excessiva é quando se conduz a uma velocidade não adequada para as condições da via, do veículo ou de quaisquer outras circunstâncias, como, por exemplo, as condições atmosféricas. Pode circular-se em velocidade excessiva mesmo sem ultrapassar os limites legais.
Onde começou a morte de Sara?
A GNR tem nesta investigação os especialistas do NICAV (ver caixas) e a TvMais sabe que há investigadores que põem como uma das hipóteses o VW Passat poder estar parado (ou quase) na via direita. Ou seja, circularia a uma velocidade desadequada. O facto, a ser dado como provado, constituiria uma contraordenação (de €250 a €1250) segundo o Código da Estrada, que diz ser proibido parar ou estacionar nas autoestradas. Mas isso pode também implicar outras convicções no julgador. O acidente que provocou a morte de Sara poderia vir a provar-se ter começado numa negligência tida na via direita da autoestrada, por quem não estava na plena posse das suas faculdades para conduzir.