Começou na imprensa – com os semanários “Nascer do Sol” a divulgar que a “TVI exige auditoria de audiências” e o “Tal & Qual” a destacar “guerra de audiências a ferro e fogo: share da televisão de Balsemão na mira das autoridades” – e acabou por ser notícia na TVI. Em foco estava a alegada “adulteração de audiências televisivas a favor da SIC”, que o Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa já está a investigar depois de a Procuradoria-Geral da República (PGR) lhe ter remetido esta queixa (facto que a PGR confirmou à agência Lusa). A notícia e a sua reprodução no pequeno ecrã suscitou um comunicado do canal de Paço de Arcos que qualifica de “absolutamente falsa, de má-fé e lesiva a acusação que o Tal & Qual e a TVI tentam fazer passar de concertação entre a SIC e a empresa GfK que mede as audiências para a CAEM – Comissão de Análise de Estudos de Meios”. No mesmo comunicado, “a SIC e o grupo Impresa informam que não estão a par de qualquer investigação nem foram contactados pelas autoridades sobre este assunto”. E adianta: “Tal como o resto do mercado, representado pela CAEM (que agrega anunciantes, agências e meios de comunicação social), exceto, aparentemente, a TVI, confiam no sistema de medição de audiências em vigor, algo que acontecia mesmo durante os anos em que a SIC não foi líder”. Por último, o canal reserva “o direito de recorrer aos meios legais ao seu dispor para defender a sua reputação”.
Duas horas após a estação de Francisco Pinto Balsemão ter emitido a sua missiva, foi a vez de a TVI se manifestar. O canal comunicou que se “limitou a noticiar uma investigação da PGR, confirmada oficialmente, como tantas vezes acontece em relação aos mais variados temas”. Por isso, sublinha, “é completamente falsa e sem sentido a acusação feita pelo grupo Impresa e SIC de que existiu má-fé por parte da TVI”. Para a estação de Queluz de Baixo, “o que está em causa é o apuramento da verdade e a assunção de eventuais responsabilidades, casos essas existam, manifestando o grupo Media Capital e a TVI total disponibilidade para colaborar com as autoridades numa investigação séria, rigorosa e serena”. E conclui que “tem veiculado à direção da CAEM as suas reflexões críticas, por entender que este é o fórum próprio para que sejam analisadas e implementadas quaisquer medidas corretivas”.
Esclareça-se que a medição de audiências serve para angariar anunciantes: consoante o share, i. é, a quota de marcado de cada programa ou canal, estes decidem onde vão investir em publicidade. Em 2020, o investimento publicitário no mercado televisivo foi de 240 milhões de euros e um erro nas medições pode ser fatal… E é por causa deste valor astronómico que os canais estão em alvoroço.
DISPUTA E LIDERANÇA
Esta “troca de galhardetes” adensa a disputa de audiências entre as duas estações privadas que ganhou ainda mais força com a recontratação por parte da TVI de Cristina Ferreira, que deixou a SIC no verão do ano passado.
De acordo com os dados disponibilizados pela GfK, a SIC é o canal mais visto da televisão em Portugal, com uma quota de mercado (share) superior a 20%. Desde os programas diurnos ao horário nobre, é a estação de Paço de Arcos que tem a preferência dos telespectadores, batendo a TVI, a sua concorrente direta. E isso acontece quer na ficção (“Amor, Amor” é, neste momento, a novela mais vista, seguida de “Festa é Festa”), quer no entretenimento (“Casa Feliz” e “Júlia” superam, em média, “Dois às 10” e “Goucha”, respetivamente) ou mesmo na informação. Ao domingo, um dos dias mais fortes em termos de audiência televisiva, a 4a temporada de “Quem Quer Namorar com o Agricultor?”, aliás, tal como “Hell’s Kitchen”, não se deixou superar pelo concorrente “All Together Now”.
O mês de junho, que agora findou, ainda não está contabilizado, mas o anterior, maio, revela que a SIC mantém a liderança com 20,2 de share contra 17,2% da TVI e 11,4% da RTP1.
Saiba o que é…
SHARE
(quota de mercado): permite verificar quais os canais e programas que obtiveram, no mesmo momento ou dia, a preferência dos telespectadores em relação aos outros programas. Torna-se como valor de referência a totalidade de pessoas que estiveram com a televisão ligada naquele instante ou dia.
RATING
(audiência média): é o número médio de telespectadores que viram determinado programa ou canal. Portugal tem cerca de dez milhões de pessoas a ver televisão, o que quer dizer que 1% de rating traduz-se, mais ou menos, em 100 mil espectadores.