Afinal tudo isto é muito fácil, como nos ensina Rui Pedro Soares. Estrela das mais cintilantes na já famosa comissão de inquérito ao pretenso negócio PT-TVI, chega lá, senta-se e diz que não fala. Disse, da primeira vez, que nada sabia do assunto, que jurava que Sócrates também nada sabia. Mas agora não fala. Afirmou estar de consciência tranquila. E eu, que aprendi que quem está de consciência tranquila não tem qualquer receio de o dizer vezes sem conta, estranho agora este silêncio. Mas estranho ainda mais o desrespeito a que podemos votar as altas instituições do país. Comissão de Inquérito, no Parlamento, com deputados da Nação munidos de mil e um documentos, a dispararem perguntas que podem determinar se esteve em marcha uma gravíssima tentativa de controlo da comunicação social? Quero lá saber. Não falo. Eles que investiguem, se quiserem. Eu limitar-me-ei a gozar os milhões que recebi de bónus, de consciência tão tranquila, que já nem me dou ao trabalho de o referir.
2- Mas a certeza de que quem veste a camisola do poder se sente à vontade para fazer tudo o que lhe apetece, surgiu-nos com a revelação de que já não são precisos concursos públicos no Instituto do Emprego e Formação Profissional. Alguém esteve com atenção ao Diário da República e reparou que os mandatos não passavam de mão, pela inexistência de concurso que pudesse originar uma substituição. Então quem exerce os cargos? Ora, os mesmos, claro. Impunha-se então a pergunta ao responsável máximo do Instituto: então não é suposto haver concursos públicos para estes cargos, não está isso na Lei? Sim, está, de facto, responde com desembaraço. Então porque não são feitos os ditos concursos e os mesmos saltitam de mandato em mandato sem oposição ou contestação? Sabe, é que não houve tempo para preparar os concursos, aquilo é uma coisa meio complicada, muito burocrática, e nós somos tão poucos…Ah, bom, assim entende-se e aceita-se. Até proponho mais: porque não estender esta maravilhosa lógica a outros sectores da sociedade e das empresas? Então não era suposto eu ser operado aos olhos por um oftalmologista? Sim, seria melhor, mas isto tem andado uma confusão tão grande, com papéis para trás e para a frente, se não se importa o enfermeiro dá uma vista de olhos a isso, eu até acho que ele já viu o médico segurar no bisturi, não há-de ser coisa por aí além… Ou melhor, as próprias presidenciais, já que falamos de ocupação de cargos: informa-se que Aníbal Cavaco Silva via continuar como presidente da República, não porque o povo lhe tenha dado, inequivocamente e em urna, mais uma demonstração de apreço e confiança, mas sim porque, sem que ninguém o esperasse, os responsáveis pela calendarização e organização do acto eleitoral têm andado numa lufa-lufa, submersos em papéis, mails, fotocópias e faxes, e quando deram por ela já tinham sido ultrapassados os prazos legais para compor uma eleiçãozita que permitisse, quiçá, saber se o presidente deve continuar ou ser substituído por outro. Assim sendo, se o Dr. Cavaco não se importar, continua no cargo, o que, bem vistas as coisas, até poupa ao país uma data de complicações e despesas. Aliás, que diabo, não será esta uma forma de evitar mais burocracias desnecessárias? Não será altura de acabarmos com o trabalhão que dão as eleições e os concursos públicos previstos na lei?