O Presidente da República tem poderes limitados, todos o sabemos. É uma realidade que os candidatos lembram aos jornalistas, sempre que, em campanha, lhes pedem que apresentem medidas que caberiam a um governo e não a Belém. Mas daí a ser a rainha de Inglaterra vai um passo largo. Não se espera de um Presidente uns simples passeios de representação, mais uns discursos generalistas. Espanta-me, pois, que o Presidente que fez suspense de parar o país para se pronunciar, preocupado, sobre o estatuto dos Açores, ande agora a caminhar entre os pingos da chuva de uma das maiores crises de que há memória. Cavaco não se compromete, não ralha, não avisa a sério. Parece aquelas equipas que se limitam a gerir a vantagem, sem arriscar, mais que provavelmente à espera da segunda eleição. Mas então, se não pretende nadar em águas profundas, não se atire para a piscina. Explico: na última semana, perante o descalabro de classificação das agências de rating, foi tempo de colocar tudo em causa. Que fazer para acalmar os mercados? De que forma demonstrar que se pode e deve poupar? Foi altura para virem novamente à baila as famosas obras públicas gigantescas, como o novo aeroporto, a linha de alta velocidade, a terceira travessia sobre o Tejo. Desentenderam-se publicamente os ministros das Finanças e das Obras Públicas, cada um a dizer coisa diferente, e o Presidente parecia, finalmente, emitir uma opinião, no caso semelhante à de Teixeira dos Santos. Cavaco foi claro: não nos podemos endividar mais, e é tempo de repensar todas as despesas para lá da conta. Parecia uma posição sobre o momento actual. Mas, pelos vistos, não era. Questionado este fim-de-semana sobre a essência desse discurso, diz o Presidente que estava apenas a reafirmar o bom-senso da Economia. Ou seja, não lhe passou pela cabeça referir-se à situação presente, mas sim falar no geral. Com uma mesma frase, duas ideias que não se compreendem ou aceitam: se fala no geral e não na situação concreta, eis uma surdez e cegueira preocupantes. Se sabe bem o sufoco do país e insiste com os jornalistas que não se refere à situação, falando dela, tenta fazer-nos passar por estúpidos. Em conclusão, se tantas vezes deveria ter falado e não o fez, porque não optou agora pelo silêncio, se era para dizer isto?
2 – Alguém me explica porque não foi condenado Domingos Névoa? Sem pretender juízos de valor sobre a guerra entre advogados e magistrados, é de facto surpreendente que um país que tem tanta dificuldade em arranjar provas contra corruptos, deixe escapar os poucos que apanha na rede. Dado como provado que estendeu um cheque chorudo a um vereador de Lisboa, entende o tribunal que não veio dali mal ao mundo, porque não estava nas mãos do vereador dar seguimento á trafulhice. Ou seja, o facto de Névoa ter oferecido uns milhares para enganar o sistema em seu benefício passa para segundo plano. Eventualmente, à luz da lei, é possível que se safe com esta argumentação. Mas, ou se revêem as leis, ou se questionam a sério as decisões judiciais. Porque a continuar assim mais vale anunciar já que a corrupção compensa neste país.
3- Emoção até ao fim nos principais campeonatos europeus. Itália, Inglaterra, Espanha, e agora, Portugal. Equipas e adeptos a roer as unhas, sem margem para erro, até ao último minuto do último jogo. Desde que não seja pasto para jogadas de bastidores, subornos e quejandos, deveria ser sempre assim. Porque para os adeptos o futebol é de facto matéria do coração. Só é preciso que ele aguente.