1 – Mas que grande surpresa: um estudo (mais um) feito por especialistas conclui que a corrupção é um problema nunca sanado no país, e que a economia paralela poderá aumentar em tempo de crise, e respectiva caça aos impostos. Não há números concretos (até porque escrita em dia não é um dos fortes da economia paralela) mas estima-se que represente já cerca de um quarto do nosso PIB, ou seja, de toda a riqueza produzida no país. Pessoalmente, não precisaria de um estudo que me dissesse o óbvio, mas é bom saber que alguém anda a estudar a coisa. E não precisaria porque estamos perante uma das mais velhas tradições lusitanas, que mais não são do que tradições latinas, ainda por cima mescladas com contribuições culturais sul-americanas ou africanas. Surpresa seria que um estudo nos trouxesse o espanto do fim da corrupção por princípio. Com crise tamanha entre mãos, e uma ainda mais grave à porta, e com o governo a carregar sobretudo nos impostos, em vez de alijar a carga dos seus vergonhosos desperdícios, não haveria dúvida nenhuma que o fenómeno iria crescer, muito para além de uma já preocupante manutenção. É lamentável? É. Mas também o é a forma como se "combatem" as crises: extorquindo cada vez mais a quem não tem fuga, ou manha para a tentar. Basta folhear a História das crises. Nunca nenhuma deitou abaixo os que sempre se safam, sendo que muitas delas permitiram negociatas cada vez mais chorudas. Os governos sucedem-se, nas cores do costume, e em tempo de crise anunciam sempre que desta é que é: a máquina fiscal e uma nova trituradora legal vão apanhar os malandros. Claro que sim… Deve ser por isso que um outro estudo (sim, mais um) concluiu ainda (ai que outra grande surpresa) que há sempre um número significativo de empregos arranjados à pressa para a incansável máquina do Estado, sempre que muda a cor politica do governo. Leia-se: uma mesma forma de fazer as coisas, ora rosa, ora laranja. Com boys a esmifrarem o dinheiro dos contribuintes, ganhando muitas vezes dez vezes mais do que os seus currículos merecem, com outra rapaziada que se ri dos boys e arranja sempre maneira de enganar e continuar a enganar quem (pensa) que governa o país, quem resta? Uma multidão silenciosa de pobres coitados a quem sobem o IRS, o IRC, o IMI e o IVA. Os que não têm outro remédio senão pagar, até porque muitas vezes nem vêm a cor do dinheiro: é logo descontado à cabeça. A filosofia parece simples, e até legítima. Mas o que acontece é que não temos necessariamente, à conta desse dinheiro que nos tiram, melhores hospitais ou escolas, justiça mais rápida ou máquina fiscal mais eficaz.
2- Para poder estar a par do que se passa no meio onde trabalho, recebo regularmente uma espécie de resenha do que sai nas revistas e jornais sobre televisão. E foi aí que comecei a ver o número significativo de crónicas indignadas contra "algo que se diz por aí". Parece que (não sei quem, nem onde) houve por aí gente a apoucar um troféu que uma novela da TVI recebeu nos States. E perante isto, estas crónicas que leio falam de "invejas, injustiças, gentinha que só sabe criticar e não reconhece a importância de uma conquista destas". Procurei saber a que se referiam e então percebi: uma novela da TVI ganhou um Emmy. Meu Deus, como é que isto me escapou? Derrotámos o Dr.House? O Mad Men? O 24? Parece que não. A nossa novela derrotou duas outras da mesma categoria, mexicana e filipina, se não estou em erro. Questão esclarecida, penso perceber ambas as partes, as eufóricas e as cépticas. É tudo uma questão de perspectiva, ou entre coração e pés assentes no chão. Compreendo que as actrizes que "pisaram o tapete vermelho" se tenham sentido nas nuvens, "que lhes pareceu estar a viver um sonho", que quando anunciaram o nome do vencedor "nem podiam acreditar". Já me parece um nadinha excessivo, para utilizar um eufemismo, que isto "demonstre a grande qualidade das novelas nacionais". É certo que não vi nenhuma das 3 obras a concurso, mas nada justifica que se agite a bandeira da Liga dos Campeões quando se disputou um jogo dos Distritais.