1 – Ficou meio país corado com Eduardo Catroga. Ri-me, como qualquer um, quando ouvi aquela imagem que deixou ao meu colega José Gomes Ferreira. Não é todos os dias que se escuta, em televisão, dito por um respeitável senhor de cabelos brancos, que os políticos fariam melhor se não perdessem tanto tempo a discutir…como dizer…pêlos púbicos. Mas depois do riso, pensando melhor…caramba. Não tenho nada contra o recurso a uma linguagem mais simples, sobretudo dos doutores da economia, que tantas vezes nos esmagam de tédio com as suas contas, mas há que distinguir entre um maior à-vontade, a conversa de café e…isto. Que os portugueses que ouviram aquilo perceberam exactamente o que queria dizer, não tenho a menor dúvida. Mas por mais simpatia que nos mereça a coragem do doutor, convenhamos que não é linguagem para a TV. A única vantagem é ter alimentado, de imediato e à boa maneira portuguesa, as mais variadas anedotas: desde sabermos que o PSD vai ver de forma diferente as parcerias púbico-privadas…até à possível campanha de uma qualquer clínica de depilação: não perca tempo a discutir pen####os, aproveite esta semana o nosso desconto para casais… Enfim, depois de Mário Lino e Manuel Pinho no PS, o PSD parece ter encontrado quem vai alimentar algum pagode. Ao menos anima a campanha.
2 – É um triste país, este. Independentemente de se achar muita, ou moderada, ou nenhuma piada ao programa “O último a sair”, da RTP, não há qualquer justificação para algumas ondas de choque que vejo formarem-se. Fiquei hoje a saber que já há umas centenas de queixas na Entidade Reguladora da Comunicação Social por causa do programa. Não sei pormenores dos argumentos, mas consta que, no geral, devotos da “decência” se sentem indignados e não querem este tipo de coisa no serviço público. Repito: não conheço as queixas e não quero ser injusto com os telespectadores irados, mas já vi, demasiadas vezes, a indignação com o humor andar de mãos dadas com a falta de inteligência e o preconceito. Bruno Nogueira, autor da ideia, é um humorista em construção. Também comecei por estranhá-lo, antes de o entranhar. Penso que passou algumas vezes a “zona de fronteira” do bom-gosto. Mas acho que a idade o fez encontrar um caminho, e a verdade é que admiro humoristas que arriscam, por mais que possam cometer erros e excessos (e isto será sempre muito subjectivo). O problema é que Bruno Nogueira trabalha em Portugal, para portugueses. E agora tem de se haver (sim, o problema da indignação é este…) com gente que, pura e simplesmente, pensa que o seu programa é ” a sério”. Sim, é verdade. Também não queria acreditar, mas mostraram-me comentários das redes sociais: há gente que comenta aquilo como comentaria o verdadeiro Big Brother. Ou seja: quando ainda temos cidadãos que, independentemente de aderirem ou não, não percebem que se trata de uma farsa, estamos, infelizmente, conversados.
3- Muitas coisas me mexem com os nervos nas chamadas revistas cor-de-rosa (e nas ditas sérias também). Mas nada me tira mais do sério do que as entrevistas às nossas vedetas femininas sobre essa proeza inédita que é…ter um bebé. Ou porque o querem ter, ou porque vão ter, ou porque acabaram de o ter, ou porque o rebento já faz dois aninhos (ai, agora quero dar um irmão à Carolina). Convinha elucidar entrevistadores e entrevistadas: já se fazem bebés há muuuuuiiiitttooo tempo. Elevar a proeza heróica, ou tema infindo, aquela que é, literalmente, a coisa mais antiga do mundo, é de um ridículo confrangedor. Mas pronto. Como lhes perguntam, as vedetas respondem. Coisas tão inesperadas como “só mesmo depois de se ter um filho se percebe que ele fará sempre parte da nossa vida”, ou “é espantoso mas ao mesmo tempo que ensino coisas ao meu filho também sinto que aprendo imensas coisas com ele”, ou “à medida que cresce o Vasquinho vai a pouco e pouco percebendo melhor o mundo que o rodeia”, ou (e haveria milhares) a minha favorita “uma criança vem alterar a nossa vida, isso posso garantir”. Agradeço, eu, e biliões de outros, que ao longo dos milénios de perpetuação das espécies, não nos tínhamos apercebido destas pérolas de descoberta. Eu não sabia, por exemplo, que os meus filhos fariam para sempre parte da minha vida. Parvo que sou.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico