1 –Neste país de balofos costumes, rendido há muito ao politicamente correcto, as reacções (na sua maioria) aos tristes acontecimentos que desaguaram no Facebook foram irrepreensivelmente previsíveis. Primeiro, um grande número de pessoas que se indigna mais com o facto de as televisões terem transmitido as imagens do que com as agressões propriamente ditas. Segundo, um número ainda maior de pessoas que chama “desumana” a ordem judicial de manter os jovens agressores em prisão preventiva. Eu juntaria as duas coisas para deixar clara a minha posição. Como responsável editorial, tive muitas e doridas dúvidas em colocar o vídeo no ar. Há, sempre, um efeito perverso: nós agimos por uma questão de “denúncia” de uma situação grave, mas os criminosos acabam por ter o seu momento de glória, a amplificação por milhares de lares de uma barbaridade que só circulava nas redes da internet. É, de todas, a dúvida metódica mais importante e discutível que se vai colocar nos próximos tempos aos jornalistas dignos desse nome. A divulgação das imagens poderia ter tido um efeito negativo, levar a imitações? Podia, sem dúvida. Mas, vendo bem, teve também o efeito com que conta quem age apor bem: alertar, prevenir, ajudar a combater a selvajaria. Sim , porque ninguém duvide que a atenção dada pela polícia e pela justiça a estes jovens criminosos não seria a mesma se o acontecimento não tivesse sido tratado pelas televisões e jornais. O que nos leva à prisão preventiva, a que muitas vozes indignadas chamaram “medieval”. É uma maneira de ver as coisas, que muitos portugueses praticam. Eu gosto de praticar outra: parece-me que não é este caso que é exagerado, mas sim tantos e tantos outros que deveriam ter o mesmo desfecho, mas que vemos a justiça resolver com um raspanete, umas palmadinhas nas costas e um termo de identidade e residência, quando tiver tempo passe periodicamente pela esquadra, se não lhe for inconveniente, claro. É por causa de tanta prisão que não foi aplicada que esta parece “exagerada” . E o que é também muito português é esta capacidade de se passar uma esponja sobre o verdadeiro acontecimento grave (a agressão e sua filmagem) assim que surge uma decisão “polémica” dos malvados dos tribunais e da polícia…Por mim, tenho uma solução que teria certamente evitado esta ordem de prisão tão “injusta”: bastava que os aprendizes de criminosos fossem adolescente normais, ou seja, que não houvesse qualquer agressão bárbara, levada a cabo por meia dúzia de atrasados mentais cobardes.
2- Não creio que belisque a minha idoneidade ou objectividade profissional dizer que simpatizo com Jerónimo de Sousa. Considero um homem amável e educado, que luta pelo seu ideal. É por isso que me custa ouvi-lo responder misturando alhos com bugalhos. E trazer para cima da mesa velhas questões políticas e históricas que pouco têm a ver com um simples acontecimento do presente, que de político tem pouco, mas que de social e civilizacional tem muito. Passou-se em Coimbra. Era dia de campanha do PCP pela cidade,e para que ninguém pudesse esquecê-lo, militantes mais devotos pintaram toda a escadaria monumental da cidade estudantil. Tornaram um espaço público histórico num mural da “luta contra o vil imperialismo”. Perante o “espectáculo” inesperado, os estudantes de Coimbra fizeram o que seria de esperar: protestaram com veemência, sentiram-se ofendidos e insultados pelo gesto gratuito e de dimensão desnecessária, e, pelo caminho, algumas palavras poderão ter sido de ofensa ao PCP. E foi a esta indignação que Jerónimo de Sousa respondeu. Não para pedir desculpa por algum excesso das suas hostes, mas para dizer que se “acabaram os tempos em que tentavam silenciar o PCP”. É o que chama fazer política quando ela não é para ali chamada. Ponto um: ainda bem que acabaram os tempos de perseguição ao PCP ou a qualquer outro partido ou indivíduo. Mas tenho pena que ainda não tenham acabado os tempos em que ninguém pensa que a sua liberdade não pode ser exercida a qualquer preço. Teria ficado bastante melhor a Jerónimo, ainda que mantivesse esse ultrapassado chavão da perseguição aos comunistas, pedir desculpa em nome dos autores da selvajaria inconsequente e sem sentido. É que não o fazer faz-me pensar que aplaudiu o feito. E se aplaudiu, muito me desilude.
2- Não creio que belisque a minha idoneidade ou objectividade profissional dizer que simpatizo com Jerónimo de Sousa. Considero um homem amável e educado, que luta pelo seu ideal. É por isso que me custa ouvi-lo responder misturando alhos com bugalhos. E trazer para cima da mesa velhas questões políticas e históricas que pouco têm a ver com um simples acontecimento do presente, que de político tem pouco, mas que de social e civilizacional tem muito. Passou-se em Coimbra. Era dia de campanha do PCP pela cidade,e para que ninguém pudesse esquecê-lo, militantes mais devotos pintaram toda a escadaria monumental da cidade estudantil. Tornaram um espaço público histórico num mural da “luta contra o vil imperialismo”. Perante o “espectáculo” inesperado, os estudantes de Coimbra fizeram o que seria de esperar: protestaram com veemência, sentiram-se ofendidos e insultados pelo gesto gratuito e de dimensão desnecessária, e, pelo caminho, algumas palavras poderão ter sido de ofensa ao PCP. E foi a esta indignação que Jerónimo de Sousa respondeu. Não para pedir desculpa por algum excesso das suas hostes, mas para dizer que se “acabaram os tempos em que tentavam silenciar o PCP”. É o que chama fazer política quando ela não é para ali chamada. Ponto um: ainda bem que acabaram os tempos de perseguição ao PCP ou a qualquer outro partido ou indivíduo. Mas tenho pena que ainda não tenham acabado os tempos em que ninguém pensa que a sua liberdade não pode ser exercida a qualquer preço. Teria ficado bastante melhor a Jerónimo, ainda que mantivesse esse ultrapassado chavão da perseguição aos comunistas, pedir desculpa em nome dos autores da selvajaria inconsequente e sem sentido. É que não o fazer faz-me pensar que aplaudiu o feito. E se aplaudiu, muito me desilude.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico