1 – Quem vota normalmente PSD, ou simplesmente pensa votar por estar farto de Sócrates, não deixará, ainda assim, de ficar confundido com os últimos passos de Pedro, o presidente. Sendo certo e irreversível que, seja qual for o partido vencedor, terá de guiar o país ao som das regras que o FMI deixou impostas; sendo que, seja qual for o partido vencedor, há cada vez mais apelos a uma unidade nacional, sem a qual essas obrigações correm o sério risco de não ser cumpridas, como é possível voltar a esticar a corda e garantir, de dedo em riste, que não governará nunca ao lado do PS? Que repetisse que não pode dar a mão a José Sócrates em nenhuma circunstância, talvez fosse compreensível; há um clima de crispação pessoal entre ambos. Mas estender essa incompatibilidade a todo um partido com quem, inevitavelmente, terá de se entender, já me parece coisa pouco avisada. Dir-me-ão os estrategas de campanha que esse ultimato faz parte do jogo eleitoral. Que é uma maneira, mais uma, de reforçar o pedido para uma maioria absoluta. Seja. Mas convém não ditar tantas e tão apertadas regras, não vá dar-se o caso de a maioria absoluta não aparecer (e as sondagens trazem este alerta). Não terei, certamente, os mesmos motivos de José Sócrates, quando digo que me parece que o PSD está numa ânsia de poder. Mas perece-me que, de facto, essa ânsia existe e pode trazer nervosismo e desconcentração. Tenho ouvido, aqui e ali, demasiadas promessas do partido, e, sobretudo, demasiadas ideias categóricas e irredutíveis, que poderão esboroar-se logo no dia seguinte às eleições. E o pior que poderia acontecer ao partido que quer reconquistar o poder é deixar-se apanhar, muito em breve, em contradições, ou ditos-por-não-ditos. Ainda esta semana, num fórum radiofónico, o mentor Eduardo Catroga, questionado sobre a eterna e vital questão de aumentos de impostos, consegue duas respostas diferentes num espaço de poucos minutos. Primeiro, categórico, diz que não, que isso não faz parte dos planos, que precisamente o seu partido não vai por os mesmo de sempre a pagar. Mais à frente, perante a mesmíssima questão, formulada de forma diferente, a resposta já vem com um: “não aumentamos impostos…em princípio.” Bom, assim também eu respondo a qualquer questão e faço qualquer promessa.
2- No lado oposto das sondagens, o Bloco de Esquerda não sabe muito bem o que lhe anda a acontecer. É cada vez mais último, depois das grandes conquistas da última década, que foram da festa de conseguir entrar no parlamento, até constituir uma força sólida e inquestionável. E há quem diga que o problema do Bloco é precisamente esse: transformou-se num partido como os outros. Bloco que tinha nascido do inconformismo, da necessidade de uma nova visão e nova voz: uma espécie de grito da “sociedade civil” agora tão em voga. Lentamente, perdeu um pouco de tudo. Transformou-se num partido “tradicional”, mas sem nunca ter o peso dos outros (nem conseguiu segurar a magra vantagem de ultrapassar o histórico PCP em algumas ocasiões). E ao transformar-se num partido como os outros, terá perdido o voto da tal “sociedade” ou ” gerações à rasca” que não se revêem em nenhuma das forças políticas convencionais (embora também não digam muito explicitamente o que querem…). Ou seja, é sob esta espuma de confusão e desorientação que vejo os apelos do líder na última convenção: nunca se viu pedidos de votos tão abrangentes: votem em nós, sociedade civil, geração à rasca, PS, PCP, e…CDS e PSD. Estou curioso para ver os próximos passos da campanha do Bloco, mas parece-me que a convenção foi um indisfarçável desconforto com as sondagens. Louçã deixou entender, penso que pela primeira vez, que está a lutar pela vitória (leia-se: a lutar pelo cargo de primeiro-ministro), quando nem ele acredita nisso e sabe que poucos acreditarão. Soa a fuga para a frente. A perdido por cem, perdido por mil. Parece-me que a grande questão do Bloco é pedir aos portugueses que desmintam com o voto que o partido está tão em baixo como parece. E que não perder por muitos já será uma pequena vitória. Até para que o partido possa ter peso para ser apetecível para acordos futuros. Mas que vai ser uma campanha curiosa, vai.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico