
Já aqui o disse várias vezes, mas não me importo de repetir, com orgulho. Grande parte do que sei de televisão aprendi na RTP, que tinha, naquela altura, um espantoso Centro de Formação (não sei como funciona hoje). Depois, além de me sentir razoavelmente preparado, a experiência que fui ganhando na Redacção devo-a, e muito, aos excelentes profissionais que foram dando a mão a um jovem inexperiente. Aprendi, sobretudo, observando com atenção (algo que os estagiários de hoje deveriam fazer), mas também com conselhos e dicas (e raspanetes que levei). Em resumo: cresci rapidamente, senti-me acompanhado, fiz amigos, e deram-me de tal forma oportunidades que a SIC acabou por pensar em mim para a sua equipa inicial. Ou seja, haja o que houver, da RTP guardarei sempre boas recordações e úteis ensinamentos. Dito isto, há algo na RTP dos últimos anos que me tira do sério, sempre que assisto a espectáculos que pretendem “mostrar” aos portugueses que a RTP é que é. Que uma empresa aposte no marketing da sua marca, é a coisa mais normal do mundo. Que assistamos, tantas vezes, a elogios em casa e causa própria, é algo que já nem veria irritar os mais nervosos. Faz parte do jogo da comunicação, todos o fazemos. Mas há sempre um mesmo pormenor, nas festas e galas com que a RTP se tenta afirmar, que não entendo como se perpetua: quando a RTP procura afirmar que é muito boa, colocando na mesma equação a sua idade e a idade dos privados. Repare que a RTP completou 57 anos. Que a SIC e a TVI têm “apenas” 21. A conta é simples. A estação pública esteve sozinha no ar 36 anos. Mas isso pouco interessa quando se trata de exercícios bacocos de auto-elogio. Há sempre, sempre, nas galas da RTP, um momento em que se ouve que a RTP é que proporcionou aos portugueses verem isto ou aquilo, desde a chegada do Homem à Lua à revolução de Abril ou ao Mundial de Inglaterra… Foi aqui, dizem-nos com orgulho de vencedor, que você viu isto e aquilo, ai se não fosse a sua RTP… E há sempre, indisfarçável, um sentido de competição, que no caso é risível, porque a RTP fala-nos de batalhas que venceu sem qualquer adversário no campo. Sim, foi na RTP que vimos a assinatura da nossa entrada na Comunidade Europeia, ou antes disso soubemos da tragédia que matou Sá Carneiro… Talvez porque… não havia nenhuma outra televisão. Isto é absolutamente óbvio, e de tão óbvio torna ridículo um marketing que se apoia na ideia mil vezes martelada do “foi na RTP que você soube ou viu ou blá-blá-blá”. Mas está visto que um óbvio ridículo não é travão na empresa. Podem mudar de profissionais, e sobretudo de administradores (e oh se mudam e volta a mudar), que a lengalenga promocional continua surda e cega à evidência, e pior, apostando que os portugueses também o serão. Acresce ao contínuo ridículo uma ideia incongruente com o que deve ser a estação: porque se posiciona num quadro de competição? É essa a sua vocação, ou dever? Também aqui, mudem os rostos que mudarem nas principais cadeiras, o discurso conveniente também não se altera. Se sobe nas audiências, faz um festim a anunciar aos quatro ventos; se desce nas audiências, manda dizer que a RTP não está na competição com os privados gananciosos.