José e Carla Pedro (43 e 36 anos) estão acusados pelas autoridades britânicas de conspiração para raptarem os seus próprios cinco filhos que, por imposição daquelas autoridades, estão entregues a famílias de acolhimento britânicas.
Filhos retirados…
Tudo começou a 23 de Abril de 2013, quando diversos elementos da polícia e dos Serviços Sociais do Lincolnshire County Council irromperam na casa desta família portuguesa em Grantham, no Leste da Inglaterra. Naquele dia, o filho mais velho do casal tinha-se queixado à assistente social da escola que o pai lhe tinha batido. Com a alegação de que os menores sofriam maus tratos físicos, sem aviso e sem ordem do tribunal, os polícias levaram-lhes as cinco crianças (de 3, 5, 7, 13 e 14 anos). O rapaz mais velho é uma criança com hiperactividade e um retardo mental diagnosticados e reconhecidos pelos próprios pais. O miúdo desmentiu tudo. Mas era tarde. Uma juíza do Tribunal de Família decidiu retirar-lhes o filhos por “risco futuro de dano emocional”. Desde Dezembro, os Pedro só estão autorizados a ver os filhos uma hora de dois em dois meses.
…e foram detidos em Inglaterra
Mal regressaram a Grantham, no Leste da Inglaterra, foram detidos. “Estivemos 12 horas presos dentro de uma cela gelada, sob a acusação de planearmos o rapto de três dos nossos filhos e de outra criança que nem sequer é nosso filho. É uma acusação sem pés nem cabeça, pois temos cinco filhos, nunca iríamos deixar dois para trás”, diz Carla Pedro. “A polícia não apresentou provas nenhumas nem documentos sobre o que nos acusam. Apresentaram os bilhetes [da viagem a Bruxelas] e uma foto com os meus filhos”, exclamou. Interrogados duas horas cada um, em separado, foram libertados mas ficaram proibidos de sair do país e têm de apresentar-se em tribunal a 21 de Maio. Até lá, os computadores pessoais, os tablets dos filhos e os telemóveis estão apreendidos, bem como os cartões de cidadão do casal e “a caderneta militar, o cartão dos bombeiros, a cédula de nascimento e o boletim de vacinas”, conta José Pedro.
“Temos condições!”
O casal emigrou de Almeirim para o Reino Unido em 2003. Carla está desempregada e já não recebe apoios sociais, mas José trabalha como operador de empilhadoras. “Nunca fui negligente, nunca consumi drogas ou álcool, o meu marido bebia uma cerveja de vez em quando, agora nem isso. Nunca faltou nada aos meus filhos, nunca lhe batíamos, apenas os castigávamos”, exclama Carla, tentando reafirmar o bom ambiente em casa. Certo é que na sequência da “denúncia do filho mais velho” ficou sem todos os outros. Os dois filhos mais novos estão numa família de acolhimento e “vão entrar no painel de adopção no mês de Abril, ou seja, a qualquer momento poderão ser adoptados”, explica Carla. O mais velho (14 anos) está também com uma família de acolhimento, bem como a filha de 13 anos e a de 7. Carla e José Pedro referiram à tvmais que ao longo do ano conseguiram manter contactos semanais com os filhos, mas este ano “só duas vezes” é que chegaram à fala com as crianças. “Várias vezes ficámos sem vê-los, ainda o processo se estava a desenrolar no tribunal de família”. Apesar da situação de desemprego, Carla Pedro considera que ela e o marido têm “condições para ficar” com os cinco filhos.
“Apoio” diplomático
“Queremos ir embora mas queremos levar os nossos filhos! Precisamos de um advogado, mas aqui é muito caro. Peço ao Estado português que nos ajude a retirar os meus filhos o mais breve possível de Inglaterra”, exclamou Carla Pedro. A acusação das autoridades britânicas é de que o casal se preparara para raptar os próprios filhos. O casal rejeitou tal acusação, que diz não ter “pés nem cabeça”. Na sexta-feira 21, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, disse à Lusa que o cônsul português se tinha deslocado a Grantham para contactar as autoridades e a família, mas Carla Pedro garante nunca ter visto ou falado com qualquer diplomata. “Sei que o cônsul esteve em Grantham porque me contaram. Nós nunca o vimos!”