Quase dois meses depois da tragédia do Meco (24 de Janeiro), a agência Lusa recebeu um comunicado da “família de João Gouveia”, afirmando que o jovem foi “localizado no areal pela Polícia Marítima e posteriormente estabilizado pelo INEM e internado, por afogamento no Hospital de Almada.”. Recentemente, a tvmais confirmou que o rapaz não foi internado no Hospital Garcia de Orta e que apenas esteve nas urgências cerca de duas horas.
Nem uma coisa nem outra
Na madrugada de 15 de Dezembro, cerca da 1.12 h, o 112 recebe uma chamada de pedido de ajuda para a praia do Moinho de Baixo, no Meco, em Sesimbra. Tudo indica ter sido João a falar para o 112. Mas ainda ninguém confirmou. A Polícia Marítima (PM) encontrou-o no areal cerca da 1.45 h. Que uma onda teria colhido tragicamente os seus colegas é o relato do sobrevivente. Iniciam-se buscas. Uma hora depois já os bombeiros de Sesimbra e o INEM estão no local. Às 4 h, João conta à enfermeira de triagem do Hospital Garcia de Orta, como foi o arrastamento para o mar, de onde diz ter saído pelo próprio pé, as tonturas e a hipotermia. O médico observa e refere uma cefaleia (dor de cabeça) de origem desconhecida. Coisa que o clínico se apressa a tratar com um comprimido de 500 mg de paracetamol. Às 6.30 h já o dux tinha alta. Do internamento e do afogamento não há notícia de constatação clínica. Nem tosse, nem espuma nas vias respiratórias, nem dificuldade na respiração, nem paragem respiratória. Sobre sinais de pré-afogamento? Nada consta.
Do hospital para Aiana de Cima
“Confirmou-me a Policia Marítima que [João Gouveia] foi direito à casa e limpou quase todos os vestígios de praxes e arrumou os pertences de toda a gente em sacos diferenciados”, contou Tiago, irmão de Pedro Negrão à tvmais. Para trás, de propósito, ou por esquecimento, ficou a colher de pau – o maior símbolo da praxe – encontrada atrás da porta de uma casa de banho da casa de Aiana de Cima.
Mesmo sem água
No comunicado que enviou à Lusa, a família Gouveia afirmava que uma onda de grandes dimensões arrastou os sete estudantes “e que o João, depois de muito esforço, conseguiu arrastar-se até à areia” e pedir socorro, “tendo ficado em exaustão, a vomitar e em hipotermia progressiva, prostrado na areia”. A exaustão, o vómito e a hipotermia podem ocorrer a seguir a qualquer forte choque emocional. A seguir a uma grande descarga de adrenalina é normal o corpo reagir assim. Com ou sem água, explicou esta semana à tvmais um clínico do Hospital Garcia de Orta.
Ondas
Quem foi àquela praia naquele fim de semana, viu as ondas de 3,5 metros de altura. E viu que poucas chegavam com força à zona plana da praia. No vídeo feito no telemóvel de Pedro Negrão, cerca das 18 h de sábado, Tiago Campos empunha um “ramo de flores com efeitos de Natal”. Curiosamente, esse ramo foi encontrado na praia, já no domingo, e por lá se manteve. O mar não o levou…
Quem mexeu no carro de Negrão?
“Os carros foram ambos encontrados em casa. Há quem diga que mexeram no meu [Seat Leon] e se calhar daí a chave nunca ter aparecido. Não faria sentido o meu irmão ter levado [as chaves quando foram para a praia], se não levava o carro”, disse à tvmais Tiago Negrão. “Falei com o dono do minimercado e ele disse que viu o grupo passar a pé por volta das 22h, 22.15 h. Falei com a GNR de Alfarim [a 2 km da casa], que disseram ter visto o grupo a passar para a praia entre as 22.30 h, 23 h”, revelou ainda. Com estes dados, a esta hora o grupo teria ainda de fazer mais 40 minutos a pé para alcançar a praia (mais 3 km). Feitas as contas, terão chegado à praia cerca das 23.45 h.
Quem é que lá esteve
Um vizinho da casa da Rua do Sol, em Aiana de Cima, Samuel Garcia, descreveu, peremptório, à TVI todas as pessoas que afirma ter visto na tarde anterior à tragédia. Nove pessoas. Depois, identificou-as entre diversas fotografias que lhe foram mostradas. Dois homens e uma mulher. Descreveu quem usava os trajes académicos, quem estava submetido a exercícios (ou praxes), a colher de pau que um deles ostentava (símbolo do poder no Comité de Praxes) e até os destinos que cada um tomou. Os detalhes vão ao ponto de ter identificado quem esteve na casa de Aiana de Cima, cerca das 5 da manhã. “Partiu num Citroën DS3”, disse ele à jornalista Ana Leal.
A avaliar pela descrição, um relato coincidente com o que o repórter das “Queridas Manhãs”, da SIC, ouviu “numa conversa com uma vizinha que recusa dar a cara para evitar mais pressões, segundo nos disse”, explicou Luís Maia em directo.
A tvmais apurou que a testemunha do jornalista se trata da mulher de Samuel Garcia. Nem um nem outro foram alguma vez ouvidos pelas autoridades.