
Desde 5 de Abril que o País sabia que a PJ de Setúbal não encontrara indícios de crime na tragédia que vitimou seis jovens no Meco e que o procurador se preparava para arquivar o inquérito. Saiu impresso nesse dia em quase todos os meios de comunicação social. Passaram os meses e os pais das vítimas (assistentes no processo) continuam a garantir nunca terem sido informados de nada. O advogado dessas famílias também garante não ter sido notificado sobre qualquer arquivamento e adianta que nesse caso irá recorrer.
Auto de notícia
Naquela noite de 15 de Dezembro, refere um agente da Polícia Marítima, no auto de notícia que exarou, ter sido avisado (por telefonema recebido às 1.30 h), do desaparecimento de seis pessoas no mar da praia do Moinho de Baixo no Meco. Afirma que chegou ao local à 1.45 h, tendo encontrado um indivíduo deitado no areal em estado de choque e aparentemente com hipotermia. Conta o agente que, verbalmente, João Gouveia se identificou e deu os dados dos seus colegas desaparecidos, incluindo os números de telefone de cada um. Conta também o agente que João lhe explicou que ele e os colegas tinham estado em convívio junto à água e que foram surpreendidos por uma vaga que os arrastou para o mar. João contou que conseguiu chegar a terra, tendo, no entretanto, perdido o paradeiros dos seus amigos.
Socorro
O auto de notícia da tragédia garante que pelas 2 h da manhã se iniciaram as buscas. Refere que a primeira ambulância chegou às 2.35 h e que às 2.45 h chegou uma ambulância com o médico do INEM. Adianta que João foi evacuado para o hospital cerca das 3.35 h, por decisão do médico, considerando que estava em hipotermia. E anuncia que o primeiro corpo (Tiago Campos) foi detectado no mar às 6.54 h e depois levado para Setúbal.
Desconhecido
O que auto de notícia não revela é se alguém da Polícia Marítima acompanhou João à casa que os estudantes tinham alugado em Aiana de Cima e a que título. Se foram, porquê, o que é que fizeram e a quem deram conta disso?
Autópsias
Ao contrário do que foi noticiado, a autópsia ao corpo de Tiago Campos refere asfixia por submersão (afogamento). Diz que o corpo apresentava lesões traumáticas na região paravertebral lombar direita que, pelas suas características, denotariam terem ocorrido na fase agónica da asfixia. Os exames toxicológicos revelaram algumas substâncias psicoativas – canabinóides e uma taxa de álcool que, reportado ao momento da morte, era de 0,63 g/l. Além disto, a autópsia não revelou outras lesões. A tvmais sabe que o corpo de Tiago chegou a terra com um par de sapatos, meias, calças, cinto e gravata (tudo preto), boxer preto com riscas cinza e camisa branca. As roupas estavam molhadas, sujas por areia, com alguns rasgões, mas não apresentavam manchas suspeitas.
Estranhamente
Apesar de conhecer a identidade dos estudantes desde a 1.45 h daquela madrugada, nenhuma autoridade contactou as famílias. Algumas souberam da tragédia pelas notícias já depois das 14 h. Na referida casa dos estudantes em Aiana apareceu tudo limpo e arrumado. Os pertences dos estudantes foram entregues às famílias de forma estranha e por pessoas que não estavam na praia nem na casa.
Telemóvel guardado um mês
A 21 de Fevereiro, numa entrevista à RTP, João Crespo, namorado de Catarina Soares, uma das vítimas, contou uma versão muito diferente da que dera aos pais dela tempos antes. Aliás, só a 19 de Janeiro e após pedido insistente do pai da Catarina é que o namorado (também estudante associado às praxes académicas) entregou o telemóvel dela. Na entrevista, João Crespo garantiu que na casa arrendada pelos jovens só estariam sete pessoas e que sabia terem ocorrido praxes naquele fim de semana de 15 de Dezembro de 2013, dado que falara com dois dos que já lá estavam, quando foi levar a namorada no sábado à tarde. “O João contou–me que apenas viu duas jovens quando foi levar a Catarina. Acho estranho dizer que estavam sete pessoas. Mas ele viu-os a todos?”, exclamou Fernanda, mãe de Catarina, após aquelas declarações.
Silêncio
Falta perceber porque não falou o sobrevivente João Gouveia com os pais dos seus amigos. Uma dúvida que assalta todos os parentes das vítimas mortais. A 24 de Janeiro, numa carta enviada à Lusa, a família de João Gouveia declarou que ele “prestará todos os esclarecimentos” no “local certo e perante as instâncias competentes”. E foi o que aconteceu. De facto, a PJ e o Ministério Público são instâncias competentes. As famílias das vítimas não.