As famílias das vítimas do Meco decidiram requerer a abertura de instrução e pedir a anulação do inquérito do Ministério Público. A mãe de uma das vítimas, Fernanda Cristóvão, garantiu que irão ser esgotadas todas as hipóteses possíveis na Justiça portuguesa, admitindo mesmo apelar ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH). Genericamente, o sentimento dos pais das vítimas do Meco é de indignação. Fátima Negrão, mãe de Pedro (24 anos), diz que precisa de paz “para descansar e poder fazer o meu luto. Afinal, o que é que me escondem?”.
Partes do corpo
O funeral de Pedro Negrão decorreu em Lisboa a 1 de Janeiro deste ano. Mas esse não foi o último capítulo da sua história. Menos de três meses passados, a família foi chamada ao Instituto Nacional de Medicina Legal. Tinham encontrado o seu maxilar na Lagoa de Albufeira. Era preciso saber o que lhe fazer (?). “É como se tornasse a viver o falecimento. É como reabrir uma ferida que estaria a cicatrizar”, explicou à tvmais o psicólogo forense Mauro Paulino. “Não vi o corpo do meu filho no funeral. Mas ninguém nos disse que o corpo não estava completo, nem ninguém nos disse que faltava o maxilar inferior”, exclamou, indignada, Fátima Negrão. “Assim, torna-se uma tarefa difícil. Sem um fim que permita tentar começar a gerir as emoções e procurar regressar à realidade/normalidade”, fazer o luto, torna-se uma tarefa hercúlea. Pior, quando os familiares não sabem (ou não têm a convicção) o que de facto aconteceu ao falecido. O corpo de Pedro Negrão só deu à costa a 26 de Dezembro (já em avançado estado de decomposição), na praia da Fonte da Telha, muito a norte do local da tragédia.
Pistas indeferidas
“Há muita coisa por explicar. O processo não foi bem conduzido!”, exclamou a mãe de Pedro à repórter Eugénia Figueiredo, do programa “Queridas Manhãs”, da SIC. “Até nos pediram as certidões de óbito. Então a Justiça não sabe que eles morreram?”, continuou inconformada. “Pedimos uma peritagem ao carro que nos foi indeferida.” De facto, várias notícias reportaram depoimentos de pessoas que referiam ter visto o carro de Pedro na praia naquela noite. “Os carros foram ambos encontrados em casa. Há quem diga que mexeram no meu [Seat Leon] e se calhar daí a chave nunca ter aparecido. Não faria sentido o meu irmão ter levado as chaves quando foram para a praia, se não levava o carro”, disse Tiago, irmão de Pedro Negrão, há meses, à tvmais. As dúvidas mantêm-se. Facto é que não foi feita qualquer perícia. Quem lhe mexeu, quando e a que título, ficará por se saber.
Testemunhas: versões
Samuel Garcia, descreveu, peremptório, à TVI as nove pessoas que afirmou ter visto na tarde anterior à tragédia. Identificou-as, descreveu quem usava os trajes académicos, quem estava submetido a exercícios (ou praxes), a colher de pau que um deles ostentava (símbolo do poder no Comité de Praxes) e até identificou quem esteve na casa de Aiana de Cima, cerca das 5 da manhã. “Partiu num Citroën DS3”, disse ele à jornalista Ana Leal, da TVI. No despacho de arquivamento do MP lê-se que os depoimentos das testemunhas “foram sucessivamente alterados”. Uma delas foi Etelvina Fonseca, a mulher que tinha a chave da casa arrendada pelos jovens. Publicamente disse várias vezes ter visto os estudantes a rastejarem, mas, chamada a prestar declarações, mudou de versão quatro vezes. Outros vizinhos também deixaram de identificar os jovens que tinham descrito à comunicação social e aos pais das vítimas.
Testemunhas: pressões
O relato de Samuel é coincidente com o que o repórter das “Queridas Manhãs”, da SIC, ouviu numa conversa que teve “com uma vizinha que recusa dar a cara para evitar mais pressões, segundo nos disse”, explicou Luís Maia em directo. A tvmais apurou que a testemunha de Maia se trata da mulher de Samuel Garcia. A que pressões se referiam? Contaram as pressões às autoridades? Ou mudaram apenas de testemunho?
Telefones
Seis jovens adultos com actividade telefónica conhecida na tarde/noite anterior e com conversas em curso, decidem ir para a praia (a 5 km) sem levar o telefone. Ninguém percebe a razão de tal coincidência. Nem os familiares das vítimas. Por que razão deixaram todos o telemóvel em casa? Só João Gouveia levou o seu para a praia. As famílias das vítimas pediram que a PJ analisasse o conteúdo do telefonema a pedir socorro e que apurasse de que máquina foi feito e por quem. Terá sido feito.
Estranho
“É estranho que o processo tenha estado parado um mês e só depois de os pais falarem para a comunicação social é que algo aconteceu. Houve um grande desinteresse pela investigação numa fase em que teria sido fundamental a recolha de provas”, disse em Janeiro deste ano Vítor Parente Ribeiro, o advogado das famílias das vítimas.