Inúmeras queixas correram toda a noite de sábado, 16, designadamente dos veraneantes instalados no parque de campismo Markádia, mesmo junto à Barragem de Odivelas, no Alentejo.
O volume de som emitido na rave era elevado e ouvido nas aldeias vizinhas. Mas só após 24 horas de música ininterrupta é que a GNR apareceu. Vinte e oito militares quiseram verificar as licenças de direito de autor na festa com 3 mil pessoas. Tentaram apreender o material de som mas alguns dos presentes, na festa não aceitaram. “Eram umas 50 pessoas à nossa frente a impedir que levássemos o material e atrás dessas estavam umas mil pessoas a atirar-nos pedras, paus e tudo o que tinham à mão. Aquilo foi uma autêntica batalha campal”, disse à TVI um dos militares.
Fuga para o café
Para escaparem às agressões, os GNR refugiaram-se num café. “Vinham um bocado suados e nervosos, a tremer. Pelos vistos, foram retirar as colunas ao pessoal lá do sistema de som e o pessoal não gostou, estavam no meio da festa e de repente começaram a atirar-lhes pedras e acho que também houve tiroteio”, disse à SIC Vera Raposo, no restaurante da Barragem de Odivelas onde os militares se acoitaram.
Batalha campal
Agressões, objectos arremessados, cães perigosos largados e “tivemos de fugir de lá”, continuou o militar. Cinco GNR foram assistidos no Hospital Distrital de Beja. Um deles levou três pontos na cabeça. A GNR não conseguiu identificar qualquer um dos seus agressores. Além das agressões, quatro viaturas ficaram danificadas. Vidros partidos, portas e pára-brisas amolgados…
Siga a festa
Apesar das queixas e da intervenção da GNR, a música continuou. Depois de agredidos, os militares optaram por negociar a saída dos ocupantes de forma gradual. A GNR foi entretanto para a estrada fazer uma operação stop. Na outra margem, o parque de campismo foi esvaziando.
Rave clandestina
Centenas de autocaravanas, tendas grandes, médias e pequenas ocuparam as margens daquele território junto à Barragem de Odivelas, que integra a Reserva Ecológica Nacional. Um local “interdito à prática de actividades ruidosas e ao uso de buzinas ou outros equipamentos sonoros”, segundo uma resolução do Conselho de Ministros de 2007. Nada disto impediu uma rave com 3 mil pessoas e a circulação de viaturas todo-o-terreno, motos, carros e camiões. No meio do triângulo entre o Alvito, Torrão e Ferreira do Alentejo, situa-se o Barragem de Odivelas. Bem junto, o parque de campismo da Markádia com capacidade para 150 tendas e caravanas e quatro bungalows. Diversos clientes abandonaram o parque por via do som altíssimo que vinha da outra margem. “Foi um barulho toda a noite, muita música, música muito alta mesmo”, é a descrição feita à SIC por Leila Casadinho, habitante daquela zona. A festa junto à barragem alentejana foi convocada nas redes sociais. Vieram pessoas de diversos lugares da Europa. Os primeiros chegaram na última quarta-feira, 13. Dois dias depois estavam lá mais de 3 mil. Todos numa rave, ilegal e selvagem, onde não houve quem assumisse liderança ou responsabilidade pela organização.
Agridem polícias por desporto
Tratando-se de cidadãos estrangeiros, depois de detidos e identificados, são libertados e notificados para comparecer em tribunal. A essa altura já estão no seu país de origem, como aconteceu com o único francês até agora identificado pela GNR. Notificado para se apresentar segunda-feira, dia 18, em tribunal, não apareceu…
Ordem de gozar
A segurança e a ordem pública estão a ser postas à prova. Em Albufeira e em Lagos, há registo de diversas agressões cometidas por turistas estrangeiros, especialmente franceses, que se divertem, apostando entre eles quem vai roubar a boina ou agredir elementos das patrulhas da GNR e PSP. Já no Verão passado houve registo deste tipo de ocorrências, mas este ano a dimensão e o número de casos é já preocupante. O abuso passa também por ligar para o 112 por gozo. Só em Agosto já foram registados 50 chamadas falsas para a zona dos bares de Albufeira. Quando a GNR chega é a risada e o gozo dos veraneantes.
Polícias agredidos (só) esta semana
Além dos cinco GNR agredidos na Barragem de Odivelas, recentemente houve agressões a polícias sem qualquer motivo aparente, em Albufeira e em Lagos. Na madrugada de domingo, 17, e na terça-feira, 12, turistas franceses agrediram GNR em patrulha. Em Lagos, segunda-feira, 11, dois PSP ficaram feridos depois de um confronto com dois turistas franceses, na sequência de um acidente de trânsito. Os agentes interceptaram o carro envolvido, mas foram logo atacados e tiveram de receber assistência hospitalar.
Incómodo e indiferença
Das autoridades políticas ainda não se ouviu qualquer palavra, mas as associações profissionais já emitiram comunicados manifestando indignação. A APG/GNR tem vindo a denunciar o facto de a legislação que pune este tipo de crime não ser nem célere, nem eficaz, nem suficientemente dissuasora da prática dos crimes de injúria e agressão contra agentes da autoridade, que são cada vez mais recorrentes. “É tremenda a desmotivação dos profissionais da GNR que, além das parcas condições de serviço, ainda se deparam com sucessivos casos em que a sua integridade é posta em risco, sem consequências, onde acaba por prevalecer a mais pura impunidade”, lê-se num comunicado daquela associação.