“O remorso no coração do homem é mais eficaz do que todas as sovas que ele possa apanhar”
in Talmude
Remorso
Por que motivo se entregou? Por remorso, disse Artur, quando confessou a autoria dos homicídios. O de Odete Castro, 73 anos, falecida em Março de 2012, em Joane, Famalicão, e o de Sónia Soares. Saber que um outro homem estava a ser condenado pela mesma morte atormentava-
-o, contou. “Não podia deixar um inocente na cadeia”, terá explicado Artur Gomes a um familiar. O seu advogado afirmou aos jornalistas que Artur irá colaborar ao máximo com as autoridades.
“Nenhum culpado pode ser absolvido pelo tribunal da própria consciência”
Juvenal
Confissão insuficiente
O assassino-confesso pouco avançou às autoridades sobre o homicídio de Odete, além do seu depoimento. As polícias investigam agora a veracidade desta confissão. Até porque há outro homem preso pelo mesmo crime e a simples confissão é insuficiente para condenar quem quer que seja. Facto é que na altura do homicídio de Odete Castro, o casal (Artur e Júlia) morava no mesmo prédio da vítima, em Joane, Famalicão. Mas é preciso encontrar factos. Ninguém se pode acusar a si mesmo sem mais aquelas.
“Não existe testemunha tão terrível, nem acusador tão implacável quanto a consciência que mora no coração de cada homem”
Políbio
Prisão preventiva
Também é facto que pouco depois da morte de Odete Castro, o casal (Artur e Júlia) se mudou para Felgueiras, precisamente para o prédio onde morava Sónia Soares, 39 anos, assassinada a 27 de Abril último, crime de cuja autoria Artur também confessa agora. Levado para a Judiciária, entregou elementos dos crimes (roupa, telemóvel de uma vítima, etc.) e explicou como levou a cabo o assassinato. Dois dias depois (quarta-feira, 29), o juiz do Tribunal de Marco de Canaveses mandou ambos em prisão preventiva, indiciados da coautoria do homicídio de Sónia e de um roubo.
“O remorso é a dor da alma”
Madame de Stael
Outro preso
Cerca de dois meses depois da morte de Odete Castro, 73 anos, a PJ deteve um sobrinho da vítima. Armindo Castro, 21 anos, estudante de Ciências Forenses, o sobrinho de Odete, explicou à PJ numa reconstituição como matou a tia. No dia seguinte, ao juiz, disse que a sua confissão era falsa. A partir daí declarou-se sempre inocente. A reconstituição acabou por ganhar tal força que o Tribunal de Famalicão o condenou a 20 anos de prisão, uma pena entretanto reduzida pela Relação para 12 anos, estando ainda agora pendente a decisão de um recurso interposto no Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
“Remorso é o depósito no fundo do copo da vida”
Ambrose Bierce
Imbróglio
Ou seja, pela morte de Odete há agora duas hipóteses de autoria. Ou foi Armindo, seu sobrinho, ou foi Artur, seu vizinho. Como apenas um pode cumprir pena, ou Artur revela factos que confirmem a sua confissão ou Armindo se sujeita à decisão que o STJ tomar. Um imbróglio. Por muito que os remorsos sejam verdadeiros, não chega confessá-los. Há que prová-los…
“O remorso é a indigestão da alma”
Pierre Véron