Está por conhecer ao certo o argumento que convenceu Ana Rita, 38 anos, a fazer aquela viagem com o pai das suas duas filhas duas, Rui Andrade, 38, o homem de quem já tinha decidido separar-se, até porque ele já saberia de outra pessoa na vida dela. Foi encontrada a meio de uma ravina, sem vida.
Suspeitas
Os ponteiros do relógio rondavam as 13.20 h de terça-feira, 18, quando soou o pedido de socorro a um despiste na serra, na estrada que liga as localidades de Sandomil a Furtado, perto de Seia. GNR e bombeiros deslocaram-se ao local onde o Opel Zafira se precipitara. Ali encontraram o corpo de Ana Rita, advogada, fora do veículo e já sem vida. O companheiro, Rui Antunes, agente imobiliário, apresentava ferimentos. Assistido no local, foi depois transportado para o hospital de Viseu. Natural da Batalha, Rita residia em Furtado, Seia, com o marido e as duas filhas (5 e 7 anos) de ambos.
Dúvidas
A GNR teve logo dúvidas. Nem rastos de travagem, nem danos no veículo, nem sinais que justificassem a ferida que a mulher apresentava no osso parietal esquerdo. A versão de Rui não combinava com nenhuma das evidências, apesar de este clamar que a mulher morrera na sequência do despiste. Os indícios recolhidas pela PJ apontam para uma encenação da morte de Ana Rita. Provavelmente porque queria divorciar-se de Rui Andrade, que não aceitou a ideia. Recolhidas as provas, o corpo foi levado já de noite para autópsia, que viria a confirmar que a mulher sucumbira após diversas agressões no seu parietal esquerdo.
Autópsia
A vítima morreu das fortes pancadas que recebeu na cabeça com um objeto contundente. Traumatismo parietal seguido de hemorragia cerebral. Expressões suficientes para continuar a duvidar da versão do marido. Algumas outras lesões podem até configurar asfixia. “O amor da minha vida partiu da forma mais inesperada e injusta possível. A minha Rita que tanto amei e continuarei a amar…”, apareceu escrito no Facebook de Rui. Foi detido pela PJ pouco depois.
Gravata preta
Pela manhã de sexta, 21, de gravata preta, Rui Antunes entrou, cabisbaixo, no Tribunal de Almeida. Foi ouvido durante várias horas por uma juíza de instrução a quem manteve a mesma versão que contou à PJ. Que Ana Rita morreu na sequência do despiste. Ficou em prisão preventiva por fortes suspeitas de ter sido o autor da morte da esposa. A ser verdade, esta é a 32ª vítima mortal de violência doméstica este ano, contando mulheres e filhos. Ela, natural da Batalha, deixa duas filhas menores. Ele, natural do Barreiro e com família em Seia. Conheceram-se em Faro. Tinham vindo viver para Furtado há cerca de dois anos para começar uma nova vida.