“Não prejudicareis as viúvas nem os órfãos”; Êxodo 22:22
122 órfãos de pai e mãe
É o número de órfãos que a violência doméstica criou nos últimos dois anos. Todos duplamente órfãos. A mãe morreu e o pai ou foi preso ou morreu também. Eles sobraram! Podemos imaginar que é uma dor imensa que os assalta, mas quem é que do Estado já os ouviu? Ninguém. Ficaram a sós no mundo, entregues a quem o Estado teve mais à mão… Entregues a familiares directos ou não. A alternativa é pior. São postas à guarda de instituições, e adeus. Nenhuma autoridade pode hoje afirmar saber o que lhes aconteceu, quantos são, ou sequer quantos estão ainda vivos. Nenhum balanço oficial faz referência aos filhos das vítimas mortais ou ao seu percurso posterior. O Estado nunca gastou um chavo para saber o que lhes aconteceu depois de terem perdido os pais. Os relatórios da UMAR são a excepção.
“Cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades”; Tiago 1:27
Relatório UMAR
A UMAR (ver caixa) compila dados sobre órfãos vítimas de violência doméstica desde 2012. Neste espaço temporal, segundo os dados da organização, a violência doméstica já criou mais de uma centena de órfãos de mãe. Em 2014 (só até 30 de Novembro), 21 menores de idade ficaram órfãos de mãe. No ano passado, a violência doméstica matou uma mulher por semana. Em 2013, 37 foram assassinadas pelos companheiros e, em 2012, 41. Segundo aquele observatório, num em cada cinco casos de homicídio já havia processo-crime em curso por violência doméstica.
“Defende o que não tem pai e o oprimido”; Salmos 10:18
Torturas parentais
O luto da separação pode desencadear processos de destruição e de descrédito no ex–cônjuge. Após uma ruptura conjugal, por vezes, nascem entre os membros do ex-casal sentimentos de rejeição ou de traição que provocam tendências vingativas. É do ser humano. A cegueira por vingança leva-os a condicionar a mente dos filhos e estes passam a ser instrumentos da agressividade direcionada ao ex-parceiro. Convencem-nos de diversas formas a rejeitar o outro progenitor ou mesmo a odiá-lo. É a isto que, genericamente, se chama alienação parental.
“Frustra as intenções dos astutos, de modo que suas mãos nada possam executar”; Jó 5:12-14
Usados e abusados
“Alice foi usada como palco da guerra dos seus progenitores. Acredito que tenha memórias transformadas. Para que a Justiça possa perceber tudo isto, é vital que, primeiro, perceba os personagens”, explicou à tvmais o professor de psicologia forense Paulo Sargento, falando sobre o caso de uma criança nestas condições. “Perceber as personagens” significa conhecer a personalidade ou a atitude (por vezes cega) dos progenitores. “Invariavelmente, são pais e/ou mães que põem em primeiro plano as suas frustrações, deixando para trás o que de facto importa para os seus filhos. Usam-nos como arma de guerra contra o ex-cônjuge. A sua imaturidade revela-se na forma como preferem destruir as mentes dos filhos a abdicar da vingança”, explica o professor de psicologia clínica Quintino Aires. Esclarecidos.
“Não explores o pobre, por ser fraco, nem oprimas os necessitados no tribunal”; Provérbios 22:22
Órfãos pendentes
Ninguém sabe quantos milhares de crianças (sobre)vivem ao sabor dos ventos de guerra dos seus progenitores. Em tribunal, o processo de regulação das responsabilidades parentais (quando é o tribunal a decidir quem fica com a criança, por quanto tempo e como, quem paga, quem cuida…), dura, em média, 28 meses.
“O caminho dos perversos é como as mais densas trevas”; Provérbios 4:19
Incapazes
“Deixam-nas, perdidas, abandonadas e tantas vezes a sentirem-se responsáveis pelo conflito entre pai e mãe”, afirma Quintino Aires. “Por muito que o superior interesse da uma criança seja a única razão da ida da sua vida a tribunal (a sua e não a dos adultos!), os tribunais, as comissões de menores, os assistentes sociais e outros associados às questões do conflito parental, por deficiência de formação, de forma quase sempre inconsciente, deixam-se empurrar para o terreno do conflito dos progenitores. É este o grande erro”, conclui o professor de Psicologia Clínica.