Ora então, aí está o novo PSD. Bom… novo será expressão demasiada. Voltam rostos antigos e, não estando em causa a sua elogiada competência, deixam uma sensação de previsível, palavra que está muito perto de ideia gasta. Também há rostos novos, em jeito de equilíbrio e “quota” tão na moda, só que essas novidades incluem uma de tal peso que pode ter dado a volta, e rodar de positivo para o negativo. E não foram precisos dias, ou apenas horas; foi efeito imediato. Rui Rio bem pode escolher quem quiser, e pode também dar mostras da sua proverbial coragem e teimosia, dizendo que as escolhas estão feitas e quem gosta, gosta, quem não gosta, habitue-se. Claro que pode fazê-lo. A grande pergunta é se deveria fazê-lo. Se deveria começar assim o reinado, a ver uma escolha sua para vice-presidente ser assobiada num congresso anunciado como a festa da união. Conseguiria Rio prever tamanha contestação? Não o sabemos, e sabemos, da sua personalidade, que nunca o admitiria. Respeitando a estranheza geral, pergunta–se: que extraordinário valor terá Elina Fraga para que Rio avance o seu nome, contra ventos e marés? Nada que se saiba, oficial e publicamente. Há, aliás, sinais em sentido contrário. Não é muito salutar, digo eu, que seja notícia horas depois da ascensão como objecto de investigação aos seus tempos de bastonária dos advogados. Porque a escolheu Rio? Haja o que houver, de uma coisa tenho a certeza: como qualquer líder político, qualquer autarca, qualquer chefe de empresa, justificará, sempre, a sua escolha com a “reconhecida competência” da escolhida. É um clássico. Quantos autarcas ouvimos, depois de promoverem mulheres, filhas e cunhados, referirem que a competência foi o seu único critério? Que eu saiba (do pouco que sei, no que devo estar igual à maioria dos portugueses) pouco se sabe de onde vem esta ligação de Rio a Elina Fraga. Só eles saberão. Como só eles saberão se esta estranha entrada pela porta grande de um partido como vocação de poder diz respeito a qualquer pagamento de qualquer favor. Podemos perder o tempo que quisermos com especulações, não o saberemos pelos próprios, sou capaz de apostar. Mas adiante. É um pormenor de somenos, numa entronização do líder que vai colocar o partido nos eixos? Talvez não. Porque o tom de “triunfo” que parecia estar agendado não foi, afinal, muito… triunfal. As contas finais, depois de discursos de abertura e fecho, demonstram que o partido, apesar dos ventos de mudança, parece ainda um pouco… partido. As contas finais deram uns 65 por cento de aprovação, ou seja, aclamação, aplauso e confiança. Para o caso, interessam sobretudo os restantes. Os 35 por cento. Parece-me número suficiente para se deduzir que Rio entra em cena perante muitos narizes torcidos e descrentes. Veja-se, aliás, as ondas de falatório sobre o discurso de Luís Montenegro. O único que assumiu não jurar fidelidade eterna ao novo líder, embora a reserve para o partido. Dito isto, é como se se tivesse sentado, a aguardar. Um líder forte pode deve dormir sem sobressalto, sejam quantos forem os candidatos do futuro à espera. A grande questão é se o congresso terá dado, mesmo, um sono tranquilo a Rio?
Rodrigo Guedes de Carvalho: Uma meia laranja
Que extraordinário valor terá Elina Fraga para que Rui Rio avance o seu nome, contra ventos e marés?