1 Não ponho em causa a realidade do desemprego, a angústia de tantos que procuram trabalho e não encontram. Sabemos como a situação se agrava e melhora, consoante os ciclos da economia, como sabemos que o desemprego bate à porta dos cursos que costumavam ser os mais seguros, os que mais garantias davam de “sucesso”. E hoje, como sabemos, advogados, arquitectos, engenheiros, a viverem ainda em casa dos pais, porque o mercado de trabalho está saturado. Sabemos isso tudo, sabemos que o problema é real. O que me leva a espantar-me quando, nestas férias, chego ao meu refúgio alentejano e ando por aí, como sempre, a revisitar restaurantes de que gosto e dos quais sou cliente há muitos anos. E que vejo eu? Uma pastelaria ótima, que abria das oito da manhã às oito da noite, e não fechava um dia no verão… que agora abre às nove da manhã e fecha às cinco da tarde, e que fecha um dia por semana, mesmo com a vila cheia de turistas. Depois, em dois restaurantes, o mesmo cenário: diminuíram o número de mesas e também fecham, pelo menos um dia. Que se passa, perguntei. Então porque não aproveitam estes meses mais fortes para o vosso negócio? Bem queríamos, explicam-me. Mas não há pessoal. Tão simples como isto, não há pessoal. A restauração não consegue encontrar quem queira trabalhar. Não sei de que salários estaremos a falar, certamente baixos, mas causa-me espanto que tanto jovem que procura uma primeira ocupação que substitua, pelo menos, a mesada dos pais, não veja aqui uma oportunidade para fazer uns trocos, começar a experimentar a auto-subsistência. Dizem-me que no Algarve é o mesmo cenário. Não há pessoal, não se encontra quem queira trabalhar, pelo menos nestes meses que poderiam ser de aforro. E os que há, bem os vejo, jovens que vão tendo, ali à frente dos clientes, a mais básica formação, como tirar um café, como facturar a conta, como fazer uma sandes mista. Entretanto, jovens cheios de tempo (e calculo que algum dinheiro dos pais) enchem festivais o verão inteiro. Sim, o desemprego é real, é um problema. Mas há aqui qualquer coisa que não bate certo.
2 Manuel Pinho lá foi, finalmente, ao Parlamento prestar esclarecimentos sobre as suspeitas que sobre ele recaem. Desculpem, não foi bem isto. Manuel Pinho foi ao Parlamento, sim, mas esclareceu nada. Do que vi, ofereceu-se longos minutos a explicar porque pagamos demais pela electricidade em Portugal (espantoso ser ele a explicar-nos). Mas das suspeitas, recebia ou não do Grupo Espírito Santo quando estava no Governo?… Nada. Pior do que nada. Quando finalmente surgem as perguntas que, supostamente, o levam ali, Pinho sorri, como se os deputados estivessem a perguntar um disparate, e informa-os: não irá responder a nada sobre a matéria e disso já tinha avisado os responsáveis pela comissão parlamentar. Que lhe responderam, supomos nós, desculpe mas vai ter de responder, porque é o que se pretende nesta comissão? Não. Aceitaram, pelos vistos, e desta combinação entre uns parlamentares e Pinho resulta a humilhação dos parlamentares que fazem perguntas. Continuamos, pois, sem saber? Sim, de facto, tecnicamente falando, uma vez que não houve resposta. Mas muito antes de Pinho sonhar em entrar para a política já se sabia que à mulher de César não lhe basta ser séria, convém parecer. Que cada um conclua o que lhe parece alguém que não responde a acusações graves. Que se mostrasse pelo menos indignado, faria mais pela sua suposta inocência do que o sorriso que diz que não responde.