Para todos que as conheciam, Dee Dee era uma mãe dedicada e amorosa para a filha Gypsy, que sofria de múltiplas doenças: distrofia muscular, leucemia, asma e epilepsia. Por Gypsy viver presa a uma cadeira de rodas, era Dee Dee quem levava a filha às dezenas de consultas médicas e era responsável pela rotina exaustiva de remédios e cuidados. Gypsy alimentava-se por um tubo e precisava de cilindros de oxigênio com frequência. Vestia-se com roupas coloridas e de princesa, falava com uma voz fina como se fosse uma criança, e afinal, segundo a mãe, apesar de já ter 23 anos, Gypsy tinha a idade mental de uma criança de sete anos. Gypsy parecia precisar de Dee Dee, que era uma mãe cuidadosa e que tinha sempre um sorriso no rosto, a mostrar o amor incondicional que sentia pela filha.
Mas em julho de 2015 tudo mudou. Dee Dee foi encontrada morta a facadas na sua própria casa. Gypsy havia desaparecido. Uma mensagem no Facebook da própria Dee Dee foi o que alertou os vizinhos: “A cabra morreu”.
Em alguns dias de investigação a polícia descobriu que Gypsy tinha um namorado secreto, que havia conhecido pela internet, chamado Nick Godejohn. A jovem foi encontrada na casa dele, e não usava mais cadeiras de rodas, porque na verdade não precisava delas. Gypsy também tinha o cabelo crescido: afinal, não era careca de verdade e era obrigada a rapar a cabeça com frequência. Também não tinha mais o aspeto infantil. Era tudo mentira, Gypsy não era doente.
A história trágica do assassinato de Dee Dee Blanchard e o que motivou a filha, Gypsy, a cometer tal crime, é contada ao pormenor na série “The Act”, que estreou hoje na HBO Portugal, e tem como protagonistas as atrizes Patricia Arquette e Joey King.
Atualmente Gypsy está a cumprir uma sentença de 10 anos de prisão, enquanto o namorado, Nick Godejohn, foi condenado a prisão perpétua. Os dois planearam o assassinato de Dee Dee juntos, pela internet. Godejohn apanhou um autocarro até a cidade de Gypsy quando ela disse que precisava escapar da mãe, depois que descobriu que as suas doenças eram todas falsas. Depois de matarem Dee Dee, o casal passou a noite num motel a comemorar a nova “liberdade” de Gypsy.
Uma vida de doenças falsas
Depois de todo o caso revelado, especialistas apontaram que Dee Dee tinha a síndrome de Münchhausen por procuração. A síndrome de Münchhausen é uma doença mental em que uma pessoa inventa condições de saúde para chamar atenção a si. A variante “por procuração” é quando um cuidador – no caso Dee Dee, provoca ou cria doenças fictícias numa criança de forma a receber maior atenção das outras pessoas.
Descobriu-se que Dee Dee escondeu por anos a verdadeira idade de Gypsy. A mãe também obrigava a filha a rapar a cabeça, tomar remédios e tranquilizantes, e dizia aos médicos que Gypsy tinha convulsões frequentes. Biópsias comprovavam que Gypsy não tinha distrofia muscular, mas a mãe insistia em mantê-la numa cadeira de rodas e a jovem foi submetida a diversos procedimentos cirúrgicos. Mãe e filha mudaram de cidade algumas vezes para evitar registos médicos muito detalhados. As duas ganharam muitas doações de instituições de caridade, como a própria casa que foi construída pela Habitat for Humanity.
Depois que Gypsy começou a ter maior noção da sua real condição, e com o incentivo do namorado virtual, a jovem passou a viver fantasias com Nick Godejohn. Usava perucas e vestia máscaras para simular uma vida diferente da que vivia. A decisão final, para conseguir a “liberdade” da mãe, foi planeada pelos dois. Gypsy confessou ter pedido a Godejohn que matasse Dee Dee, e o homem de 26 anos atendeu ao pedido, ao dar 17 facadas na mãe da namorada. Gypsy foi condenada em 2016, e Godejohn em fevereiro deste ano.
Veja o trailer da série “The Act”.