Antes mesmo de ser contada a história de Amadeo de Souza-Cardoso aparece, a branco no centro da tela preta,a dedicatória incontornável: “Para a Eunice”, “Para o Rogério”.
Dois grandes nomes da representação nacional e presenças na longa metragem, que partiram antes de terem oportunidade de ver o resultado final de “Amadeo”.
Eunice Muñoz e Rogério Samora foram, respetivamente, a dedicada avó e o pai encorajador do pintor no filme de Vicente Alves do Ó, cuja escolha para dar vida ao artista recaiu sobre Rafael Morais.
“Foi um luxo fazer este papel”, começa por dizer o ator, lembrando o “prazer enorme em contracenar com ambos”: “A Eunice é uma referência. Viveu a maior parte da sua vida no palco e isso é de louvar. O Rogério, durante todo o processo, foi extremamente amoroso, divertido e muito dedicado”.
Embora considere “estranho” não ter, fisicamente, os dois neste momento de estreia, Rafael garante que esta é também “uma dedicatória a eles”.
“O filme também é sobre isso, sobre coisas que não podemos prever; o Amadeo morreu inesperadamente, com 30 anos, no início de uma carreira que poderia ter revolucionado o mundo artístico português. Mas eu acredito mesmo que tanto ele como a Eunice e o Rogério ainda estão aqui connosco”, diz, orgulhoso de todo o trabalho que foi feito e cujo resultado foi exibido na antestreia no Cinema São Jorge, em Lisboa.
Viver Amadeo de perto
Esta é também uma ode ao artista que queria “pintar o futuro” e “morreu cedo demais”, mas “tinha tudo para vingar além-fronteiras”, segundo o ator, de 33 anos, que lhe dá vida neste drama tão português.
O filme, que sobreviveu a uma pandemia, estreia esta quinta feira, 26 de janeiro, nos cinemas: mais de três anos depois de terem sido gravadas as últimas cenas.
“Acabámos de rodar no final de 2019, exatamente antes de ‘rebentar’ a pandemia de Covid-19”, recorda Rafael, sublinhando que essa é umas das muitas coincidências que “Amadeo” esconde.
“Estou muito contente por fechar este capítulo e dar a conhecer a Portugal este artista incompreendido e, infelizmente, muito desconhecido e finalmente poder aplaudir o resultado final numa grande sala, sem máscaras”, diz, relembrando o convite do cineasta.
“Quando o Vicente me falou fiquei assustado, confesso”, começa por dizer, sublinhando que “o facto de sentir esse receio é um sinal que não quero, de todo, jogar pelo seguro, que devo arriscar”.
E assim foi. Rafael “bebeu” toda a informação que pôde para fazer jus ao artista: esteve na casa e ateliê do pintor em Amarante, teve oportunidade de ler algumas das cartas que escreveu e tocar nos pincéis que usou para pintar o que lhe estava na alma.
Além disso, teve aulas na Faculdade de Belas-Artes e, no final, trocou opiniões e cenas com alguns dos melhores atores nacionais.
Dar valor ao que é português
Antes mesmo que os portugueses pudessem conhecer a história do artista que “foi para Paris à procura de um futuro melhor”, Rafael Morais sublinhou as semelhanças com o período que se vive atualmente em Portugal – em que muitos jovens, artistas e não só, procuram oportunidades além-fronteiras – e deixou um pedido.
“Espero mesmo que as pessoas vão ao cinema e que a cultura e o cinema português passem a ser mais respeitados”, começou por dizer.
“Tal como acontece no filme, sinto que os artistas continuam desprotegidos e a serem desrespeitados _ até por parte dos governantes – e gostava mesmo que isso mudasse porque se trata da nossa identidade, a nossa Pátria”, finaliza o protagonista de “Amadeo”
Um filme que promete apaixonar os portugueses desde o primeiro minuto com o romance entre o pintor e Lucie, vivido numa altura em que a I Guerra Mundial e a gripe espanhola fustigam a Europa.
Ana Lopes, Lúcia Moniz, Ana Vilela da Costa, Manuela Couto, Ricardo Barbosa, Raquel Rocha Vieira e José Pimentão fazem parte do elenco. Veja o trailer:
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