Foi na cidade de Setúbal que encontrámos Diogo Infante, um dos mais multifacetados atores portugueses, a gravar a novela “Jogo Duplo”, na qual interpreta um homem maquiavélico, líder de uma tríade chinesa, para quem a palavra matar é usada sem pudor. Agora, Manuel pretende governar o País e anuncia a sua candidatura. Mas este não é o seu único trabalho. Aos 50 anos, o ator divide-se entre produções em televisão, teatro e cinema e está a adorar, apesar de dormir pouco. “Sou muito feliz a fazer o que faço.”
O Manuel é capaz de tudo! Agora vai governar o País?
Vamos ver até onde chega. Ele é um homem ambicioso. Resta saber se as intenções são boas. Esse é o grande perigo: quando entregamos o poder em mãos que nem sempre nos conduzem no bom sentido. O mundo está cheio de exemplos de pessoas em lugares estratégicos sobre os quais recai uma enorme desconfiança e receio.
A quem é que ele deixa a presidência do grupo?
Ao João [João Catarré]. Não posso revelar mais, que posso ser despedido (risos).
Gosta da evolução da personagem?
É difícil abraçar alguém que tem tanto poder, uma capacidade tão fria de calcular e manipular. Como exercício para um ator é muito giro, porque não sou nada assim, mas ao mesmo tempo é assustador, se pensarmos que podia ser verdade. O Manuel é um bombom. Nós gostamos sempre mais de fazer personagens muito diferentes de nós do que parecidas, porque podemos brincar.
Está a ser muito cansativo?
Um pouco. A verdade é que a incidência na novela anterior, “A Impostora”, era maior. A dificuldade está na gestão do tempo que tenho de fazer para honrar este compromisso com os outros que tenho.
Porque se divide em três frentes…
Na verdade, são três frentes mais uma, porque acumulo a televisão com a encenação do espetáculo que estreia no dia 1 de março e se chama “O Deus da Carnificina”, o filme, que é um sonho antigo que finalmente se concretizou, e a direção do Teatro da Trindade. Mas a verdade é que com muito boa vontade e planificação foi possível. A curta foi feita em três dias de filmagens intensas que me deram muito prazer.
Como foi reencontrar atores com os quais deu os primeiros passos?
Foi reencontrar velhos amigos, todos eles absolutamente extraordinários que foram emprestar o seu talento e tempo a um filme que, no fundo, fala de atores e é uma homenagem à classe, uma fantasia, pois retrata uma realidade que não é efetivamente assim. Coloquei uma série de atores seniores num lar de sonho, algures no campo. É uma mistura de “Downtown Abbey” com o campo português, mas é sobretudo um contributo para agradecermos a generosidade de atores como a Eunice Muñoz, o Ruy de Carvalho, a Lurdes Norberto, a Cecília Guimarães e outros que, às vezes, passam um bocadinho despercebidos. Acho que a forma como a idade nos trata já é dura. A sociedade não nos deveria fazer o mesmo. Não podemos esquecer estas pessoas.
Como conseguiu conciliar tudo?
Nesta fase durmo pouco, de facto, mas faço tudo com muita paixão e prazer.
Imagina-se a envelhecer assim?
Adoraria, porque sou amigo deles e acho que são um exemplo. Sentirmo-nos ativos é a melhor maneira para atingir a longevidade. Gostaria mesmo muito de envelhecer assim.
Até porque ser ator não tem prazo…
Não tem mesmo! Há papéis que só atores mais velhos podem fazer.