Áustria, 7 graus negativos. Joana Salgueiro sai no seu vestido de noiva fresco e sem mangas para uma sessão fotográfica e quase gela. O marido, André, tem mais sorte, pois o fato que usou no dia do casamento é um pouco mais quente. Mas nada os demove de mostrar que a vida pode ser uma eterna lua-de-mel em qualquer quanto do mundo. Destemidos e apaixonados por viagens, decidiram no dia em que se casaram e partiram para a viagem de núpcias que iriam prolongá-lo para sempre e foi assim que nasceu o blogue “Honeymooners”, em que promovem o romantismo por onde passam.
“Já viajámos antes, preocupávamo-nos em levar máquina fotográfica e tripé para termos imagens sempre a dois. Era esse o nosso objetivo”, revelaram. Mas quando decidiram lançar a plataforma digital um ano depois de se terem casado, em maio de 2017, sabiam que tinham de ter alguma coisa diferente que atraísse seguidores.
“Os fatos de noivos foram a estratégia que encontrámos e, ao mesmo tempo, é algo que no dá muito gosto usar em cada sessão que fazemos. Queríamos que o blogue fosse diferente de tudo o que havia”, explicaram. Mas também queriam aproveitar mais o vestido de noiva e fato. “No dia em que nos casámos choveu muito, por isso ficámos com poucas fotografias. Foi um dia que passou a correr, como acontece a todos, e que gostávamos de poder continuar a gozar. Assim decidimos que íamos aliar o prazer que temos em viajar aos trajes de noivos. E a verdade é que foi isto que nos abriu muitas portas”, confidenciou o casal (ambos têm 26 anos).
92 mil seguidores
Em menos de um ano, conquistaram 92 mil seguidores, estão no top 10 mundial de blogues de viagens e candidataram-se ao vestido mais viajado do mundo no “Guinness World Records”. “Temos muitas ideias, mas precisamos de apoios. Até agora, não temos patrocinadores. É tudo por nossa conta e envolve muito dinheiro, mas lá vamos conseguindo. Por isso, é que queremos ganhar o prémio.”
Ainda assim, desde que começaram a namorar já foram a 32 países, embora no blogue só estejam ainda oito. Em termos de continentes, faltam-lhes a Oceânia e querem voltar a África – os próximos destinos –, até porque terão de passar por todo o mundo para poderem ser aceites no “Guinness”. “Gostávamos de ir a Marrocos e a São Tomé e Príncipe, por ser um país lindo, muito ligado a Portugal. Na Austrália, Sydney, Bora Bora ou Fiji são as opções.” Para já, não pensam ser viajantes profissionais – Joana é farmacêutica e André trabalha com o pai na empresa de caixilharias da família. Para ele, é mais fácil gerir o tempo de forma a planear as saídas, mas o ideal era que o blogue se tornasse profissional ao ponto da mulher poder ficar livre para se dedicar mais a ele, uma vez que lhes dá tanto gozo. “Ainda não nos conseguimos desligar do nosso trabalho atual, porque o ‘Honeymooners’ é muito recente, ainda nem tem um ano. Portanto, temos os dias contados para poder descobrir o mundo”, afirmam.
Muitas peripécias
Uns dizem que são loucos, outros veem-nos como excêntricos. Eles não se reveem em nenhum dos adjetivos, mas aceitam-nos sem qualquer preconceito, porque o que fazem os diverte. Peripécias para contar também não lhes faltam. Já passaram frio, calor abrasador em Havana, Cuba e na Índia, e nada os faz parar, nem sequer as muitas malas que levam com eles. Uma só para os fatos, outra para o material fotográfico e uma terceira na qual levam a roupa e produtos de que necessitam. “Talvez a maior peripécia pela qual passámos foi no deserto de Atacama, no Chile. Subi para uma pedra e rasguei as calças na primeira fotografia ao ponto de se verem os boxers. Tive de andar com alfinetes a segurar e posicionar-me para não se ver. Foi mesmo difícil de fazer, mas conseguimos!”, revelou André. No entanto, o momento mais marcante aconteceu na Índia, junto ao Tal Mahal, monumento dedicado ao amor por excelência. “Aparecemos vestidos de noivos num local com uma cultura completamente diferente da nossa. Olhavam para nós a pensar ‘o que é isto?’ e, de repente, formou-se uma fila impressionante de pessoas que queriam tirar fotos connosco. Tirámos mais do que no dia do nosso casamento. Foi uma experiência incrível”, contaram. “As nossas famílias até dizem que, pelo menos, o vestido de noiva não deu prejuízo de tão usado que é”, contaram, divertidos.
Fazem quatro a cinco viagens por ano e por eles subiam a fasquia. Como vão gerir quando tiverem filhos, algo que planeiam para o futuro? “Vão connosco. Certamente que teremos boas ideias, porque o nosso conceito é fazer uma coisa a longo prazo, não ficar apenas pelos noivos. É uma vida em lua-de-mel, com tudo o que isso traz.”
A história de amor entre Joana e André começou quando tinham 15 anos. São ambos de Moimenta da Beira, uma vila com dois mil habitantes, por isso cruzaram-se desde sempre. No entanto, o namoro aconteceu durante a festa de aniversário de um amigo comum. “Fui eu quem a conquistou”, sublinhou André. “A Joana abriu uma lata de refrigerante e ficou toda molhada. Eu reparei e aproveitei o momento, perguntando-lhe se queria a minha camisola. A partir daí, nunca mais nos largámos. Foi um longo namoro, mas continuamos felizes”, acrescentou. Nem o facto de a jovem ter ido estudar para Coimbra durante a faculdade os afastou. “Toda a gente dizia que a separação iria acontecer, porque éramos muitos novos, mas sempre dissemos que íamos ficar juntos e ultrapassámos a distância durante seis anos, que foi uma grande prova. Só nos víamos ao fim de semana, mas já fazíamos viagens.” A primeira a dois foi a Paris, a última não está nos planos.