A viajar pela Jordânia há cerca de três dias, Ângelo Rodrigues está a documentar através do Instagram esta que é provavelmente a sua primeira viagem internacional depois do internamento. O ator aparece sozinho nas fotografias que está a publicar na rede social, e na mais recente escreveu um longo e literário texto sobre um possível flirt com duas mulheres do local.
No texto, Ângelo diz que foi atraído por duas mulheres de cerca de 25 anos que usavam burca: “Sei que a curiosidade que tenho por elas pode facilmente ser confundida com assédio, mas, mesmo sabendo que poderei ter problemas, rapidamente sou traído pela minha insensatez. Mas hey, desde o problema que tive no passado que ando de mão dada com o perigo.”
O ator continua: “Percebo pelos sorrisos tímidos e olhares de soslaio que comentam algo sobre mim. Afinal, o flirt é linguagem universal.” Ângelo descreve o momento em que uma das mulheres passa batom nos lábios, e relata: “Tenho-a a olhar fixamente para mim, enquanto balança a perna esquerda, apoia o cotovelo na mesa e segura o rosto com o polegar e o indicador. Já vi romances começarem com muito menos.”
O ator então conta como reagiu: “Então respiro fundo, tiro o casaco, arregaço as mangas da camisa, pego na minha corajosa timidez e… escondo o olhar na tela do telefone.” No fim da história, Ângelo afirma: “Estou ainda a indagar sobre se poderia ter forçado uma interação ou não. O meu arrependimento chicoteia-me e diz-me que nunca saberei”.
No Instagram o ator recebeu elogios pelo texto, com fãs a sugerir que Ângelo escreva um livro.
Leia na íntegra o texto de Ângelo Rodrigues:
O meu olhar recai nelas, porque não consigo esconder o meu interesse. Duas mulheres, 25 anos, esguias. Dress code: full-black-burka-casual-chic. Estão sentadas numa mesa à minha direita. Sei que a curiosidade que tenho por elas pode facilmente ser confundida com assédio, mas, mesmo sabendo que poderei ter problemas, rapidamente sou traído pela minha insensatez. Mas hey, desde o problema que tive no passado que ando de mão dada com o perigo.
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Uma delas – a que está de costas para mim – tira o pedaço de tecido negro que lhe tapa a boca e começa a pintar os lábios. Reparo que vai olhando para trás para certificar-se que eu acompanho o ritual. Percebo pelos sorrisos tímidos e olhares de soslaio que comentam algo sobre mim. Afinal, o flirt é linguagem universal. O meu cérebro entra em curto circuito e auto recrimina-se, por não estar a conseguir processar a natural feminilidade daquelas mulheres. É que apesar de viverem escondidas, a vaidade não as abandona.
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Para quem vem de uma realidade ocidental em que é comum ver miúdas desnudadas acotovelarem-se por likes no Instagram – porque em Portugal é Verão o ano todo – aqui o culto do mistério é mais pujante.
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Imagino como seria se o Tinder existisse aqui. O quão difícil seria escolher uma parceira que fechasse uma permuta sexual de mútuo acordo, baseando-se apenas na intensidade dos olhares. Abordagens como “já vi freiras de luto mais animadas que tu” ou “gostei do teu véu, lol” seriam expectáveis. Ou a descrição das fotos delas: “com preto, não me compromento” ou “indecisa com o que vestir, kakakaka”. Aliás, terrorista mulher no Médio Oriente é uma profissão com muita saída, porque fica difícil encontrá-las.
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Voltando: ela termina de pintar os lábios e levanta-se. Atira umas palavras à amiga e troca de lugar com ela. Vejo agora que fez um bom trabalho. É impossível escapar ao clima lascivo que ela criou. Tenho-a a olhar fixamente para mim, enquanto balança a perna esquerda, apoia o cotovelo na mesa e segura o rosto com o polegar e o indicador. Já vi romances começarem com muito menos.
Agora sou eu que fico intimidado com a abordagem. Afinal de contas, estou habituado a que a geometria da sedução seja outra. Então respiro fundo, tiro o casaco, arregaço as mangas da camisa, pego na minha corajosa timidez e… escondo o olhar na tela do telefone. Boa, D. Juan. Que orgulho. •
Ela franze o sobrolho e não compreende o meu embaraço. Faz sinal à amiga, levantam-se com a sua indumentária pós velório e saem.
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Estou ainda a indagar sobre se poderia ter forçado uma interação ou não. O meu arrependimento chicoteia-me e diz-me que nunca saberei. •
Morrerei assim, para sempre na dúvida. Jordânia 1, Portugal 0.