Como se sabe, Cristina Ferreira está a ser processada pela SIC, a sua antiga estação, que lhe exige uma indemnização superior a 20 milhões de euros pela quebra do contrato. Algo inédito na história da televisão portuguesa e que só mostra que esse é um meio que move valores milionários. De acordo com o que consta no processo, a que a revista “TvMais” teve acesso, a estação de Paço de Arcos quer que Cristina Ferreira seja “condenada a pagar 20.287.084 euros a título de cláusula penal e dano excedente acrescido de juros de mora comerciais”. Para chegar a este valor astronómico, a SIC evoca a cláusula sexta do contrato de trabalho celebrado entre o canal do grupo Impresa e a apresentadora, no dia 30 de novembro de 2018, no qual pode ler-se que se uma das partes rescindisse o contrato unilateralmente ficaria “obrigada ao pagamento de um valor equivalente ao valor do preço que seria devido até termo da duração do contrato sem prejuízo do direito a indemnização pelo eventual dano excedente”.
Tramada pelas próprias palavras
Do processo constam como prova as faturas dos valores milionários que Cristina Ferreira recebeu enquanto esteve ao serviço da SIC, o contrato de trabalho celebrado entre a apresentadora e a estação, bem como as adendas que lhe foram feitas, conversas e e-mails trocados entre Cristina e Daniel Oliveira, diretor de programas da SIC, e ainda duas entrevistas que deu aquando da sua mudança para a TVI. “Cristina Ferreira, em entrevista ao ‘Jornal das 8’ de dia 13/09/20 e no programa de 21/09/20 do ‘Você na TV!’, reconheceu de forma clara e perentória a não observância do prazo de quatro anos contratualmente fixado”, pode ler-se.
Recorde-se que, na entrevista feita pelo jornalista Pedro Pinto, Cristina admitiu que a sua saída foi abrupta e inesperada. “Tive conversas anteriores em que fui demonstrando o que estava a sentir, o que não invalida que não tenham sido apanhados de surpresa e que deste lado pudesse acontecer o que acabou por suceder”, revelou. Já a Manuel Luís Goucha explicou os motivos do seu regresso àquela que chama de “casa-mãe”. “Vi a TVI a cair e sentia que tinha de voltar para ajudar a pôr tudo no lugar, porque eu ajudei a destruir. Podia ter ficado na SIC a ganhar muito mais com muito mais condições do que hoje estou a ganhar aqui”, afirmou, salientando que foi uma decisão tomada unilateralmente. Não consta, por enquanto, do processo (uma vez que aconteceu posteriormente à sua entrega no tribunal), mas é provável que venha a ser acrescentada a conversa entre Cristina e Ruben Rua, que aconteceu a 23 de setembro de 2020, na estreia de “Dia de Cristina”, em que o ex-manequim confessa que foi contactado pela apresentadora, no sentido de vir a trabalhar com ela na TVI, na primeira semana de julho, ou seja, cerca de duas semanas antes dela comunicar a sua decisão de sair à SIC. Nessa mesma conversa, Cristina Ferreira também admitiu que, ainda ao serviço da estação de Paço de Arcos, sugeriu a Ruben Rua que a TVI contratasse a blogger Helena Coelho, atitude que comprometia as suas funções enquanto consultora executiva da SIC.
Deu nega a seis programas
Na entrevista que deu em o “Jornal das 8”, Cristina confessou que se sentiu “uma emigrante” enquanto esteve ao serviço da SIC e que a sua passagem pela estação de Pinto Balsemão foi “apenas ‘O Programa da Cristina’ e houve funções para as quais não foi chamada”. Já a SIC alega que lhe foi “proposta a apresentação dos programas ‘A Máscara’, ‘Lipsync Portugal’, ‘O Noivo é que Sabe’, ‘Escola de Sogras’, ‘Quem Quer Ser Milionário’ e ‘A Experiência’, mas que declinou fazê-los, alegando um potencial desgaste da imagem e da marca Cristina Ferreira”. Havia, no entanto, o compromisso entre a estrela e a estação de Paço de Arcos de “apresentar os Globos de Ouro de 2021, o programa ‘A Outro Nível’ e um novo programa para a plataforma de streaming da SIC”. De acordo com o processo, o canal da Impresa nunca suspeitou das intenções da Cristina de regressar à TVI, tanto que “a boa relação das partes, aliada aos ainda melhores resultados da execução do contrato, motivaram a SIC a propor a Cristina Ferreira a renovação antecipada do contrato”. Ou seja, no dia 26 de junho de 2020, Daniel Oliveira enviou um e-mail à apresentadora com a proposta de uma renovação do contrato que vigoraria de 1 de janeiro de 2021 a 31 de dezembro de 2025. Nesse novo contrato, a SIC dispunha-se a pagar 90 mil euros por mês à apresentadora, isto é, mais 10 mil euros mensais do que pagava até então. O diretor de Programas planeava fazer o anúncio da renovação no dia 8 de setembro. Segundo o processo, Cristina “mostrou interesse na renovação do contrato”.
Por isso, a estação salienta a sua indignação quando “um mês depois, de forma absolutamente inesperada e surpreendente, Cristina Ferreira declarou vontade de cessar unilateralmente e sem qualquer fundamento o contrato que a vinculava à SIC”.
Batalha judicial
A SIC que, de um dia para o outro, perdeu a sua “galinha dos ovos de ouro” e foi obrigada a reinventar-se e a tomar um novo rumo nos principais programas da estação, vai ser implacável com Cristina Ferreira durante todo o processo. Daniel Oliveira não esquece a manhã de 17 de julho de 2020 quando, bem cedo, foi ter com Cristina Ferreira para que essa lhe esclarecesse se seriam verdade os rumores de que iria aceitar uma proposta da TVI. Logo após o seu programa, a apresentadora teve uma conversa com o diretor de Programas da SIC e Francisco Pedro Balsemão em que lhe foi feita uma contraproposta. De tarde, chegava aos e-mails dos responsáveis da SIC o pedido de rescisão unilateral do contrato de trabalho. Posto isto, a batalha judicial que se avizinha e que deverá começar no início de 2021 vai pôr frente a frente a apresentadora e Daniel Oliveira. Do leque de testemunhas arrolados pela SIC fazem parte, além do diretor de Programas, Francisco Pedro Balsemão (CEO do grupo Impresa), José Pedro Fernandes (diretor comercial), Luís Miguel Fonseca (diretor de Distribuição, Venda de Conteúdos e Desenvolvimento de Negócios) e Cristina Barroso (diretora de Controlo de Gestão). A defesa de Cristina Ferreira está a ser ardilosamente montada pela sua nova equipa de advogados, liderada por Sofia Louro, que começou logo por pedir um adiamento da entrega da contestação, justificando que o processo “suscita questões jurídicas complexas”. O requerimento foi aceite, dando à apresentadora mais 30 dias.