Mais de uma década depois de por lá se ter estreado, Sara Matos está de volta ao palco do Teatro Experimental de Cascais (TEC). Mais experiente, segura e, sobretudo, mais adulta. É, desde 13 de novembro, a protagonista do espetáculo “Yerma”, ao lado de Renato Godinho. “É uma peça sobre uma mulher que vive um conflito emocional muito grande, pois não consegue conceber um filho. E não estamos a falar apenas de uma questão de infertilidade, porque pode não ser. Ela tem uma relação conturbada com o marido, que passa por ciúme e traição”, começa por contar a atriz à TvMais, referindo-se a este texto com quase um século mas intemporal. “Muitas pessoas vão-se identificar com este texto. Naquela altura, uma mulher não conseguir ter um filho, independentemente das razões, seria sempre vista como uma infértil, que não pode dar herdeiros e a culpa seria sempre dela. A pressão social e o conflito emocional fazem com que a peça tenha um ritmo alucinante. É uma tragédia, começa num ponto emocional muito forte. E é assim do princípio ao fim”, acrescenta.
Esta produção marca o retorno de Sara ao TEC, algo que não a podia deixar mais entusiasmada. “É especial regressar a este palco, ainda para mais pela mão do Carlos Avilez, uma pessoa que será sempre importante para mim. Foi ele que me ensinou a ser apaixonada por esta arte”, sublinha a atriz, certa de que este é um grande desafio e, ao mesmo tempo, uma enorme responsabilidade. “Já fiz teatro antes, mas esta é uma personagem com grande destaque, que está do início ao fim na peça. Ainda bem que a aceitei agora, porque foi bom para mim ter amadurecido na minha profissão também para conseguir aguentar uma personagem destas. Sinto esta responsabilidade de estar no TEC, com o meu mentor, professor e encenador. É, de facto, muito grande e sinto-me uma sortuda por poder representar esta obra [escrita em 1934 pelo poeta espanhol Frederico Garcia Lorca]”.
Em tempos de pandemia, todas as condições do teatro foram adaptadas. Trabalhar mediante tantas medidas restritivas é algo que se torna também um desafio para os atores. “Entro em palco, não sei o dia de manhã, não sei se vou continuar a fazer a peça, se alguém vai apanhar Covid, se eu apanho, se tenho ou não de estar parada… Já dava muito valor a esta personagem, então agora, como não sabemos o dia de amanhã, é aproveitar esta oportunidade ao máximo, com unhas e dentes”, aponta Sara Matos, reforçando que não se trata de medo: “Medo é uma palavra forte. Medo, medo era os meus pais apanharem Covid, alguém próximo, ou isto descambar mais ainda. É um desafio por aquilo que toda a gente está a passar. Agora deixámos de ter espetáculos ao fim de semana. Claro que nenhum de nós estava à espera, mas tem de ser e acredito que as coisas têm de ser por uma razão. Não saber o dia de amanhã cria aqui uma certa adrenalina de: Fogo, estivemos aqui um mês e uma semana a trabalhar para isto e agora não sabemos se vamos conseguir apresentar ou não”, conclui.
“YERMA”
data e local: Em cena (até 13 de dezembro) de quarta a sexta-feira, às 20.45 h, no Teatro Mirita Casimiro,
no Monte Estoril. MAIS INFORMAÇÕES: 214 670 320