Quando se descobre uma traição, o nosso mundo cai e só nessa altura é que paramos para repensar a vida e a relação”, observa Catarina Lucas, psicóloga especialista em sexologia e terapia de casal. No seu livro “Vida a Dois”, da editora Influência, diz que “a descoberta de uma infidelidade leva-nos a questionar não só a relação mas também o nosso próprio valor enquanto pessoa e amante”. Há quem sofra horrores ao ponto de querer fazer exatamente o mesmo que o companheiro. Mas quando chega a hora, não há coragem. “Talvez o seu maior medo não seja trair mas, sim, trair-se a si, nos seus princípios”, afirma a terapeuta, que considera que este episódio da vida deve ser partilhado. Não só com um psicólogo, se possível, mas também com alguém próximo. “O suporte de um ou dois amigos ou familiares pode ser essencial. Partilhar e ouvir outras pessoas pode ser reparador”, defende. No entanto, a psicóloga alerta que nem todos os conselhos são para seguir: “É preciso analisar as coisas com alguma frieza, dispensando-se o uso de moralismo, crítica desnecessária ou dramatismos!”
Pode não ser o fim
Por ser tão criticado em sociedade, a psicóloga lembra que “o traidor não é apenas um culpado, um viciado em sexo, um indecente ou uma pessoa sem escrúpulos. Quem trai é apenas um ser humano, apanhado na teia que tece o dilema novidade versus previsibilidade”, diz. “À medida que conhecemos melhor o outro, começamos a sentir uma diminuição da admiração e do desejo sexual, mas isso não significa que não amemos essa pessoa”, acredita. Por isso é que há casamentos que terminam depois deste embate mas também há relações que se tornam mais fortes. “Depois de Magda [uma paciente] ter descoberto a traição do marido, e por forma a não o perder para uma rival, investiu tudo. E investiu até sexualmente. A relação entre eles mudou significativamente”, conta a psicóloga. “O Cristóvão [outro paciente] entendeu que a infidelidade (da sua mulher) ocorreu pela forma como estavam a viver. Está hoje numa nova fase, mais consciente, mas, ao mesmo tempo, com um maior investimento.”
Tome conta da sua relação
Nestes dois casos, a infidelidade serviu de gatilho para a fase seguinte das relações mas há casamentos que simplesmente terminam. “Infidelidades resultam de uma condição preexistente à qual não quisemos prestar atenção mais cedo”, observa Catarina, que afirma que as causas são “múltiplas e nem sempre claras”. A diminuição do desejo sexual ou a rotina do dia a dia são dois desses motivos. E às vezes “basta receber um pouco de atenção, ouvir novamente um elogio” para se trair. Por isso, antes que a infidelidade aconteça, a psicóloga aconselha “a tomar conta do que tem”. “Num mundo em que as garantias de amor eterno não existem e a porta da infidelidade é tão fácil de abrir, é importante refletir sobre as relações, sobre o que desejamos para as mesmas e sobre o que é possível”, completa Catarina Lucas.