Uma semana depois de Tony Carreira ter quebrado o silêncio sobre a perda da filha, Manuel Luís Goucha assina o editorial da newsletter do grupo Media Capital em que volta a falar sobre esta conversa. Recorda que soube que iria entrevistar o amigo há “dois meses”, mas que sempre esperou que fosse demorar mais. “Calei a informação como quem protege um segredo, desejando no íntimo que fosse o mais tarde possível, consciente da importância mediática que tal conversa assumiria, mas igualmente do doloroso que seria mexer numa vida suspensa, num vazio que cresce”, começa por escrever, acrescentando: “Procurei esquecer o assunto, no afã diário de conhecer outras histórias de vida, que é isso atualmente que me traz à pantalha, sendo que, nesses casos, independentemente da empatia que procuro sempre estabelecer, existe o distanciamento e a racionalidade que julgo necessários à condução de uma conversa”.
No mesmo texto, o apresentador admite que quando o dia chegou “depois de uma noite de luar apagado, horas pesadas e inquietas. Não havia como fugir, era chegado o momento de cumpliciar a dor de um pai que morre na morte da sua filha”.E a amizade entre os dois implicou uma regra: “Como fazê-lo senão com o coração? Daí que tivesse sido uma conversa em ferida. De todas, a mais difícil. Perante mim, um amigo amado, grande na sua vulnerabilidade. Foi uma conversa de olhos molhados, silêncios que doem, gritos que vibram na alma. Era deixá-lo ir, apenas isso e tanto era, ao ritmo da memória que não se apaga, de gestos que são revolta ou prece, das sombras que amaldiçoam. Uma dor lenta e salgada em cada palavra, pântano onde naufragámos. Que destino é este que nos cobre?”, questiona.Goucha termina a admitir que esta entrevista “foi conversar sem princípio nem fim”. “Foi estar, seguindo-lhe o pensamento e dando-lhe a mão. Perdi a noção do tempo, achando desnecessárias as palavras quando o silêncio era maior. Acabei só naquela manhã líquida e foi naquele abraço, que não quis castigar em nome das regras de segurança a que somos aconselhados e julgando que as câmaras já se tinham desligado, que me salvei”.