Foi a 13 de maio de 2021 que Maria João Abreu partiu, aos 57 anos. A atriz sentiu-se mal durante as gravações da novela “A Serra”, no dia 30 de abril e foi internada no Hospital Garcia da Orta, em Almada, devido ao rompimento de um aneurisma. Foi submetida a cirurgias e ficou em coma induzido, na esperança de uma recuperação, mas não resistiu e morreu na manhã de 13 de maio.
A TvMais esteve com Maria João Abreu a 28 de abril, dois dias antes do rompimento do primeiro aneurisma, nas gravações do programa da SIC Mulher “Mesaluisa”, de Luísa Villar. Este foi dos últimos trabalhos gravados por Maria João. Ao seu lado neste dia, como convidados de Luísa Villar, estiveram José Raposo e João Baião. Nesta data, a menos de 48 horas de ter sido vítima do primeiro aneurisma, a artista concedeu-nos a sua última entrevista.
Maria João foi a primeira a chegar ao local e disse estar muito cansada, na véspera tinha gravado a sitcom “Patrões Fora”, projeto que conciliava com a novela “A Serra”, onde dava vida à padeira Sãozinha. A aparência de Maria João Abreu evidenciava o cansaço e espelhava as poucas horas de sono, mas a atriz vincou que não faltaria ao desafio proposto pela mãe de Salvador Sobral. Serena, recebeu com agrado o ex-companheiro e o colega e amigo, que chegaram depois e estiveram ao seu lado neste dia. Antes das gravações falaram do pai da atriz, depois de José Raposo recordar os cozinhados do sogro, João António Abreu, que faleceu vítima de cancro em novembro de 2020. Maria João não conseguiu disfarçar a tristeza que ainda sentia e assumiu chorar com frequência. Era nos braços do marido que encontrava o conforto quando a dor e a saudade apertavam.
Recorde a última entrevista da artista, onde esta assume os sintomas que a atormentavam nos últimos tempos e que associou sempre à doença crónica que descobriu há quatro anos.
Hoje é a convidada de um programa gastronómico, já conhece os dotes da anfitriã?
Conheci a Luísa há dois meses, quando fui à “Casa Feliz” fazer um especial de “Golpe de Sorte”. Ela cozinhou umas favas para nós que estavam divinais. Ela cozinha de forma divinal! A Luísa é uma pessoa que nos entra logo no coração.
Consegue conciliar os projetos que tem atualmente em televisão com estes desafios?
Apesar de estar a gravar “A Serra” de segunda a sexta e “Patrões Fora” à terça-feira – estou aqui com três horas de sono –, não podia recusar estar aqui hoje no programa dela, porque ela cozinha realmente muito bem. A conversa com a Luísa é sempre muito agradável.
A Maria João é um “bom garfo”?
Sou um “bom garfo”! Gosto de comer de tudo, apesar de ter excluído algumas coisas da minha alimentação por causa da fibromialgia.
Que alimentos são esses?
Excluí o glúten, laticínios, açúcar e álcool. Abro uma exceção para o vinho tinto às vezes à noite, ao jantar. Senti diferenças uma semana depois. Deixei de sentir dores, o meu organismo começou a desinflamar, deixei de ter refluxo, prisão de ventre, deixei de ter dores de cabeça…
Quais foram os sinais que a alertaram para este problema se saúde?
Comecei por ter dores generalizadas, passado pouco tempo de entrar na menopausa. A médica de família mandou-me fazer uma análise e acusou uma doença autoimune. Fiz o despiste dessa doença no Instituto de Reumatologia e não acusava nada. Voltei a fazer seis meses depois, continuou a não acusar nada. Não há diagnóstico para a fibromialgia, é sempre por exclusão de partes, tem a ver com as dores generalizadas, insónias, ansiedade, muito cansaço, uma série de coisas que depois vão aparecendo.
Atualmente, a doença está controlada?
Agora já me apareceram outras, que são muitas securas, muita secura na boca, língua, sempre muito seca. Tenho um zumbido num ouvido… Mas as dores e o cansaço eram o pior: acordava mais cansada que na véspera e com muitas dores após estar deitada.
Qual é o momento mais complicado nas suas rotinas?
O acordar custa muito, porque o estar deitada na cama dá muitas dores nas costas. Depois de acordar, um bom banho quente, com jato de água nas costas, ajuda a aliviar.
Como combate estes sintomas?
A alimentação é fundamental! Deixei de tomar antidepressivos, anti-inflamatórios, agora só tomo coisas naturais, faço grandes doses de vitamina D, B, colagénio. Faço reflexologia, entre outras terapias, e bebo muita água.
O que mudou na sua vida depois de descobrir que sofria de fibromialgia?
Procuro ter uma vida tranquila e calma. E tento, agora com esta idade, fazer aquilo que me dá realmente prazer. Não fazer fretes, não estar onde não gosto, não estar com quem não me sinto bem e ter a possibilidade de a nível profissional fazer algumas escolhas.
Quais são as suas prioridades e como atenua os efeitos da doença?
A prioridade é estar bem comigo, pensar um bocadinho em mim. Eu penso muito nos outros, mas a família está em primeiro lugar. Já consigo ter alguns momentos do dia dedicados só a mim, em que me sento a sentir que estou a respirar e tentar relaxar um bocadinho. Apesar de pensar na família: os filhos, agora só a mãe, o meu pai faleceu há seis meses…
Como recorda o seu pai?
O meu pai era um cozinheiro exímio… Por vezes, choro quando estou a cozinhar, porque essas são algumas das melhores memórias que tenho dele. O João percebe esses momentos que estou mais em baixo, mas ele puxa-me, abraça-me, e isso ajuda. Mas continuo a chorar, mesmo depois destes meses.
Durante o confinamento confecionou e partilhou algumas receitas com os seus seguidores. Recebe muitas reações?
Nas redes sociais as pessoas colocam-me muitas questões e partilham comigo coisas sobre a fibromialgia, especialmente depois de fazer o pão sem glúten e falar da minha situação. Mas nos últimos seis meses não tenho tido tempo para colocar nada nas redes sociais… Nem quero!