Luísa Castel-Branco, 68 anos, foi vítima de abusos sexuais duas vezes na sua vida.
A revelação é feita, agora, por altura do lançamento do segundo volume da sua trilogia autobiográfica. Em ‘O Amor É Uma Invenção dos Pobres – Pensamentos e Emoções Sobre o Amor e os Filhos’, a escritora e comentadora da TVI conta, com coragem, vários acontecimentos da sua vida, nomeadamente os abusos sexuais de que foi vítima durante a sua infância.
Em entrevista, a mãe da atriz Inês Castel-Branco revelou que foi vítima de “um amigo da família” e também de “um primo afastado” quando tinha 7 e 11 anos, e como isso a marcou para o resto da vida.
O seu relato cru, impressiona.
“Tem-se uma vergonha para o resto da vida, como se aos sete e aos 11 anos pudesse fazer-se mais alguma coisa. Quando, naquela altura, nem sabia o que aquilo era. Daí que não fosse passível de falar”, diz Luísa Castel-Branco.
A comentadora manteve este segredo até ao presente e explica por que o fez, preferindo, então, optar pelo silêncio.
“Com vergonha. É tão estúpido… Uma pessoa está a ver qualquer uma das milhentas notícias que aparecem e olha aqueles milhentos casos que vão a tribunal e saem de lá com penas suspensas. Tenho sempre vontade que alguém ensine o juiz ou a juíza o que isto realmente significa. É óbvio que nenhuma daquelas crianças merece ter vergonha. Deve ser, exatamente, o contrário”, afirma, alegando que, na altura, não teve a noção precisa do que lhe tinha acontecido.
No entanto, o trauma ficou. “Acho que qualquer criança que é molestada é uma criança que perdeu a vida, a inocência, os sonhos, uma data de coisas… Só mais tarde, quando fiz psicanálise, percebi que aqueles pesadelos que tinha recorrentemente eram verdade”, assegura.
Inês já leu o livro da mãe
Com o livro pronto, Luísa decidiu, por fim, assumir os seu drama perante a família e deu tudo a ler à filha, Inês Castel-Branco, antes da obra seguir para a editora.
“Quando o livro passou para a última fase da impressão, pedi à minha filha Inês que o lesse, em nome de todos os meus filhos. Eles eram as pessoas que, para mim, realmente contavam, além, obviamente, do Francisco [marido], que também leu. Agora, os dados estão lançados e tenho de ter coragem para aquilo que vai haver. Não é fácil”, conta Luísa Castel-Branco, que foi vítima de abusos sexuais, mas ficou calada durante mais de 50 anos.
A filha deu-lhe força para continuar sem medo.
“Disse que eu escrevia muito bem e que estava tudo bem… Aquilo envolve o pai dela, a minha vida o mais pessoal possível… Envolve coisas de que nenhum deles sabia. Queria que ela soubesse antes. Ela fez-me um telefonema e disse: ‘A mãe escreve muito bem.’ E eu disse: ‘Está bem, filha, mas…’. “Não há ‘mas’ nenhum”, disse-me ela. Pronto. A partir do momento em que não há ‘mas’ nenhum… Tive o único aval que, para mim, era importante.”, remata.