Famosos reagem à morte de Mário Matos Ribeiro, que partiu aos 64 anos, no dia 19 de novembro. A notícia da sua morte foi divulgada pela ModaLisboa através de um comunicado, onde realçavam o seu caráter e obra:
“Mário Matos Ribeiro foi co-fundador da ModaLisboa e um dos mais relevantes pioneiros da Moda de Autor em Portugal. Criou, com Eduarda Abbondanza, a Abbondanza/Matos Ribeiro — marca estrutural na cena cultural da cidade e do país — e os anos acrescentaram-lhe à carreira os títulos de Diretor de Arte, Investigador, Consultor, Curador e Mentor. Dedicou toda a sua vida ao ensino e ao futuro. Era discípulo da perfeição e exigia humanidade. É com pesar que a ModaLisboa escreve sobre a perda de um dos seus elementos maiores”, podia ler-se.
Entre as várias mensagens de pesar nas redes sociais, destaque para as palavas emocionadas da filha, Sofia Matos Ribeiro, fruto da relação com Eduarda Abbondanza: “Meu pai, talvez hoje não seja dia para declarações extensas. Nós dois nunca fomos o tipo de pessoas que precisava disso. Curto, pragmático, eficaz. Se tivesse graça, tanto melhor – tinhas o sentido de humor mais voraz de todos – mas, mais uma vez, talvez hoje não. Vias tão bem o futuro que é possível que tivesses visto também a minha dificuldade em ter palavras para isto. Deixaste-me a teimosia, gostava que me tivesses deixado também toda a tua sensibilidade estética, a astúcia, mais ou menos tudo o que sabias. A vida foi diferente, fomos tudo menos lineares. E nem o fim me deixaste prever. Até já ????”
Eduarda Abbondaza também homenageou o pai da sua filha: “Adeus, Mário, que encontres a paz e a luz.
Falar sobre ti é lembrar-me de nós os dois, e depois de nós os três, e depois de tantos, com as amigas e os amigos que se nos foram juntando ao longo dos anos. Falar sobre ti é falar do exímio, da transcendência, a procura permanente da perfeição. Falar sobre ti é falar sobre Moda no seu lado mais profundo e magnífico, da construção e da concepção, dias e noites a investigar e a experimentar até à exaustão.
Foi intensa, recheada e emocionante a nossa história, nunca simples ou fácil. A forte intuição que nos era comum unia-nos nas diferenças. Amámo-nos e detestámo-nos, amigos e inimigos, zangados e amorosos, cúmplices e nunca traidores. Na altura, era tudo ou nada, não fazíamos por menos. Mesmo distantes, sabíamos o que se passava, sempre! Ficou-nos o melhor do mundo, a Sofia. A versão mais doce e perfeita da nossa parceria. E por isso, obrigada.”.
Vejas as fotos que Eduarda Abbondaza e filha de Mário Matos Ribeiro partilharam
O adeus dos amigos
“Vais continuar aqui, guardado no meu coração, meu muito querido Mário”, escreveu a antiga manequim Sofia Aparício sobre aquele que foi diretor criativo da ModaLisboa entre 1992 e 2010 e professor de Design de Moda na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa,
Já o estlista Nuno Baltazar escreveu um longo texto de despedida, onde recordou a imoortânica que Mário Matos Ribeiro teve no seu percurso profissional e pessoal: “Ontem partiu o meu querido Mário Matos Ribeiro @mariomatosribeiro … Não éramos amigos próximos, tinha por ele o carinho de um grande admirador e a distância suficiente para que estivesse sempre naquela espécie de pedestal que reservamos aos nossos ídolos da adolescência. O Mário era louco! Um louco fascinante que só podia ser assim e por isso era genial. E precisamos tanto de pessoas assim. Com a Eduarda @eabbondanza e tantos outros amigos, que não posso nomear porque certamente me esquecerei de algum, teve a coragem de criar a ModaLisboa @lisboafashionweek e marcar para sempre a história da moda de autor em Portugal.
Felizmente tive coragem para lhe dizer em vida o quanto o admirava. Admirava e era fã! Acompanhei sempre o seu trabalho na dupla Abbondanza / Matos Ribeiro com o entusiasmo de um miúdo apaixonado. Enquanto os rapazes adolescentes que me rodeavam vibravam com os jogos de futebol, eu gravava em cassetes de VHS tudo o que apareceria deles no programa da Silvia Rato e mais tarde no 86-60-86; os desfiles nas Manobras de Maio ou na ModaLisboa. Guardava as todas as revistas K do Miguel Esteves Cardoso @miguelestevescardoso e os maravilhosos editoriais do Paulo Gomes @paulojngomes com as peças deles. Ia à saudosa Código da Anabela Baldaque @anabela_baldaque e aí podia mexer e ver de perto os detalhes das suas criações.
Para mim pensar no Mário é pensar nos Velvet Underground, no desfile das ventoínhas com aquela coleção tão bonita com silhuetas grunge, os coletes e blazers cheios de cortes que criavam novos padrões de riscas, as gargantilhas de pele, tudo tão lindooooo , ou no Lambarena (Bach in África) do desfile das saias rodadas e braços com barro super teatral ou aquele vídeo projectado no fundo da passarela, no desfile improvisado no Museu da Marinha, devia ser o verão 93 ou algo por aí, com a Maria João Baginha a desfilar por entre corredores de pessoas uma coleção linda, toda branca com as enormes sombrinhas de panos alvos e esvoaçantes que me faziam lembrar o The Sheltering Sky”.