“O Segredo de Espinosa” já está à venda em Portugal e noutros países. Foi escrito num ano, de segunda a sexta-feira, dez páginas por dia. “Quando se faz uma coisa por gosto não é um sacrifício”, diz, primeiramente, o pivô do “Telejornal”, da RTP1, que em março vai fazer uma digressão pela América do Sul para promover a obra. José Rodrigues dos Santos lança o 25º livro e explica o seu processo criativo – Os segredos de um escritor.
“Todo o mundo sabe que Bento Espinosa era português, mas nós estranhamente desconhecemos isso”
Ainda falta uma hora para apresentar o novo livro e já José Rodrigues dos Santos está na Sociedade de Geografia de Lisboa, que encheu no sábado, dia 21 de outubro, para o ouvir, aplaudir e ganhar um autógrafo. O jornalista não deixa nada ao acaso e participou no ensaio de preparação para dar conhecer o seu novo romance, “O Segredo de Espinosa”. À revista TvMais explica porque escolheu o filósofo português. Sim, porque ainda que tenha nascido e vivido em Amersterdão, Holanda, a mãe era de Ponte de Lima e o pai da Vidigueira. “Todo o mundo sabe que Bento Espinosa era português, mas nós estranhamente desconhecemos isso”, revela,
“Sempre que se aproxima o lançamento de um dos meus livros, as pessoas perguntam-me qual é o tema”
Sempre que se aproxima o lançamento de um dos meus livros, as pessoas perguntam-me qual é o tema. A minha resposta é sempre a mesma: não posso dizer. Mas neste caso dei uma pista e dizia ser sobre o maior filósofo português, e respondiam-me Agostinho da Silva, padre António Vieira. Ninguém acertou, exceto o reitor da Universidade Católica que respondeu Bento Espinosa”, revela o jornalista, acrescentando: “Isto é um sinal de uma ignorância total, não apenas das pessoas, mas do sistema cultural português. Quando vamos aos Países Baixos vemos várias estátuas de Bento Espinosa, há semanas culturais dedicadas ao filósofo. O palácio do governo tem as frases de Espinosa esculpidas na fachada. E nós, o que é que temos? Nada!”, diz, em seguida.
“Acho que é o momento para pôr fim a esta ignorância e começar a celebrar um dos maiores génios da história“
Além de ser um romance, “O Segredo de Espinosa” pretende ter uma função didática, como defende o autor: “O homem que inventou o mundo ocidental, as democracias liberais, foi Bento Espinosa. O que ultimou o método científico que hoje usamos foi Bento Espinosa. Ele foi um dos maiores génios e nós não sabemos. E, portanto, acho que é o momento para pôr fim a esta ignorância e começar a celebrar um dos maiores génios da história da humanidade e que, na verdade, era um dos nossos”, explica, acima de tudo.
O seu novo livro não podia ser mais atual
José Rodrigues dos Santos salienta que este seu novo livro não podia ser mais atual. “Ele inventa a democracia liberal, que no fundo é a sociedade aberta que neste momento está a enfrentar os seus inimigos que se levantaram e querem o seu fim.” E aponta os exemplos da invasão da Rússia à Ucrânia e a guerra entre Israel e o Hamas. “A Rússia tem por detrás de si o Irão, a China e a Coreia da Norte. Já no caso de Israel, o Hamas tem o Irão, que por sua vez tem a Rússia, a China e a Coreia do Norte. Estamos a assistir ao confronto do mundo de Espinosa e dos outros.”
Só não escreve ao fim de semana
A criação de “O Segredo de Espinosa” demorou o mesmo tempo que os anteriores romances do jornalista. “Normalmente levo um ano, entre a pesquisa e a escrita. Este foi também foi um ano. Lanço-o hoje [21 de outubro] porque faço sempre os meus lançamentos em outubro. É já uma tradição”, conta, em seguida, a estrela da estação pública, partilhando que tem um método de escrita que lhe permite editar um novo livro por ano: “Escrevo todos os dias. Aos fins de semana evito, não o faço, e durante a semana, a partir de determinada hora do dia, deixo de escrever porque tenho de preparar e apresentar o Telejornal”.
“A escrita nunca é contínua. Às vezes escrevo duas ou três horas de manhã”
A rotina da escrita passa pela manhã e pela tarde, como diz, mas não consegue quantificar quanto tempo fica sentado ao computador. “A escrita nunca é contínua. Às vezes escrevo duas ou três horas de manhã. Retomo à tarde e escrevo durante mais uma hora ou duas. Mas é difícil contabilizar as horas, porque varia. Procuro escrever sempre dez páginas por dia.” Contudo, garante que não é um escritor disciplinado: “Gosto de fazer o que faço. Quando se faz uma coisa por gosto não é um sacrifício. Tenho mesmo o gosto de escrever”. Quanto à inspiração, revela, sem segredos, de onde vem: “Dos acontecimentos e da realidade à minha volta”. Este é o seu 25o livro em 20 anos de carreira literária e vende milhões em todo o mundo. Tal como Espinosa, será o jornalista também um génio? “Não. Não sou (risos). É importante ter os meus livros um pouco por todo o mundo, é a exportação da nossa cultura.”
“Um dia vou deixar de lançar livros“
Apesar da tranquilidade que evidenciou no lançamento da obra, que foi apresentada pelo político João Soares, o escritor confidenciou estar nervoso: “É sempre um momento muito importante e significativo. Tenho a perfeita noção, como em tudo na vida, que tudo tem um começo e um fim. Um dia vou deixar de lançar livros. Por isso tento usufruir de cada apresentação como um momento único”. A falar assim até parece que a reforma como romancista pode estar mais perto do que os leitores imaginam, mas José Rodrigues dos Santos não coloca prazos: “Nunca se sabe. A vida é uma incógnita. Um dia deixarei de publicar livros”, atira, por fim.
Percorra, por fim, a galeria de imagens. José Rodrigues dos Santos lança o 25º livro e explica o seu processo criativo – Os segredos de um escritor.