Com o avançar do tempo, Antónia vai ficar cada vez mais fragilizada e acaba por contar a Pedro que abandonou um filho no passado. Internada na clínica, ela recebe a visita do milionário quando está a pegar numa fotografia dele em bebé. Mal ele entra, tenta escondê-la. “Comigo, não precisa disfarçar. A Antónia passou por uma experiência aterradora”, solta o noivo de Clara, com a vilã a quebrar. “Julguei que não tinha muito tempo de vida. A degradação estava a acontecer tão depressa que eu pensei que ia morrer e quando isso acontece… Quando isso acontece somos obrigados a olhar para trás. A encarar o passado e os erros que demorámos a vida inteira a tentar esquecer”, justifica. Ele pergunta-lhe se tinha algum motivo para isso e a resposta não tarda: “Alguém me disse que os erros servem para nos tornarmos pessoas melhores. Eu levei a minha vida a fugir! Da casa onde nasci, das minhas origens e de tudo o que tive de fazer para me livrar daquilo que se me pegava à pele. Não sabe o que isso é”, constata, calando-se em seguida.
Percebendo que ela está prestes a contar a verdade, o irmão de Lourenço comenta que sente que ela tem alguma coisa para lhe dizer. “O meu passado não foi bonito. Desde que eu saí da casa da minha mãe até aqui, muita gente ficou pelo caminho. Se fossem só inimigos… Mas não. Não me arrependo de me defender dos meus inimigos. O pior, foram os inocentes. Um, em particular…”, afirma ela, que logo completa: “Estou a falar do meu filho. E não é o Lourenço. Eu tive outro filho”, revela, mostrando-lhe a imagem. “Ele era o meu filho mais velho e eu abandonei-o. É um assunto muito complicado… Ele nasceu na altura errada, mas, apesar disso, eu tentei mantê-lo comigo. Não pude”, acrescenta. “Ou não quis?”, riposta Pedro. Antónia logo diz que já está a ser julgada e ele pede desculpa. “Não. Só estava a tentar perceber… Quais foram as suas razões para fazer uma coisa dessas?”, questiona.
Nesse instante, Elias está para entrar no quarto, mas ao vê-los a conversar fica à porta. A conversa continua. Antónia passa a jogar à defesa: “O que é que isso interessa?! Quaisquer que tenham sido as minhas razões, eu deixei o meu filho à porta de uma Igreja! Deixei-o ali e fui-me embora, sem olhar para trás. Porque não queria ver a carinha dele, uma criança pequenina, assustada sem perceber o que lhe estava a acontecer. Os meus motivos não podem salvar-me! Já nada pode”, afirma, insistindo: “Você tinha razão quando disse que o passado nos apanha sempre, porque… Desde que fiquei doente eu não consigo deixar de pensar, no que poderia ter sido se eu não tivesse tomado aquela decisão, mas mesmo que eu quisesse… Mesmo que eu quisesse voltar atrás e de alguma maneira tentar reconciliar-me com o meu passado, não poderia. O meu filho morreu”. O namorado de Clara é apanhado de surpresa.“Soube-o há pouco tempo. Parece que Deus não quis dar-me a oportunidade de me redimir”, justifica a malvada. “E conseguia? Mais de trinta anos depois, acha que teria redenção?! Se o… Se o seu filho não tivesse morrido, acredita que ele a perdoaria? Que Deus a perdoaria?!”, pergunta Pedro, revoltado. A mãe dá-lhe razão. “Às vezes, penso como ele seria, quando cresceu. Era muito bonito. Tinha uns olhos enormes e estava sempre a rir. Um dia… Foi pouco antes de eu o deixar na Igreja. Eu estava desvairada, não sabia o que fazer e ele reparou. Veio ter comigo, deu-me um abracinho apertado e perguntou se se tinha portado mal. Queria saber o que podia fazer para me ver alegre. E eu nunca lhe disse que estava enganado e que não se tinha portado mal! E só queria poder dizer-lhe isso. Sem esperar por perdão nem redenção, nem coisa nenhuma, eu só queria dizer ao meu filho que ele nunca se portou mal!”, confidencia, de lágrimas nos olhos. O rapaz fá-la ver que talvez ainda possa redimir-se, mas ela está em negação. “Um dia, quando voltarmos a encontrar-nos, sim. Talvez ainda possa”, frisa. “Esse dia está mais perto do que julga”, comenta Pedro.
Nesse instante, Magda irrompe pelo gabinete e percebe que Elias estava a escutar à porta, quebrando o momento.