O título do Benfica foi uma festa memorável. Guardo na memória a sensatez precoce de um adolescente que, no meio da festa, declarava que não era do Benfica, mas que tinha de admitir que era um dia bonito de celebração. Seria tão bom que mais pessoas destas rodeassem o futebol. Ao invés, algumas tristezas do costume. Primeiro, a tristeza de ver que alguns elementos do F.C.Porto (não tenho a certeza se seriam Super-Dragões) consideram serem donos da Avenida dos Aliados. Assim que terminaram os jogos e se sabia que o Benfica iria celebrar, era vê-los, com a sua pose agressiva barata, à espera de incautos benfiquistas que se "atrevessem" a celebrar naquela rua. As imagens não mentem: insultos, cuspidelas, tentativas de agressão, cachecóis vermelhos incendiados, em mais uma demonstração de boçalidade violenta. Que tristeza a falta de dignidade na derrota. Sendo que nem sequer se tratava disso. As vitórias de um campeonato deviam ser consideradas sem os derrotados, no sentido em que não são necessariamente vitórias "contra" alguém. Mas o ódio continua a ser dos mais fortes motores das pessoas que acompanham o futebol. E, quando menos se esperava, também Domingos Paciência ajudou, nas últimas declarações do campeonato, a demonstrar que há quem não saiba manter dignidade até ao último minuto. É um homem que merece todo o nosso respeito, pelo espantoso trabalho que fez esta época, alguém que soube sempre dosear as palavras, e a cada jogo repetir o orgulho (merecido) que tinha nos seus jogadores, que para si já eram campeões, pelo que já tinham feito. Mas foi incapaz de manter esta nota até ao fim. Lá vieram as palavras que tentam manchar a vitória dos outros. Afinal, Domingos não se contentou com o segundo lugar brilhante. Porque, segundo ele, o Benfica foi ajudado pelo "sistema", e jogou "contra dez um terço do campeonato". É pena que nestas horas a clubite seja uma doença, é triste que não se perceba que qualquer equipa pode encontrar coisas "estranhas" nos jogos dos outros. Bastava lembrar que na penúltima jornada o Braga venceu com um golo solitário porque o guarda-redes adversário parece ter desmaiado a defender a bola mais fácil do mundo. Isso mancha a carreira do Braga? Não, em nada. Mas seria bom acabar com as declarações que só levam ao ódio.
2- Da tristeza que sinto nestas horas, passaria à vergonha de ser representado por político do calibre de Ricardo Rodrigues. O episódio do furto dos gravadores é mau demais para ser verdade. Acontece na altura em que se pensava que certos políticos não poderiam descer mais baixo na pressão que exercem sobre a liberdade de expressão. Ainda para mais, com desculpa insultuosa à mistura: dizer que as perguntas que lhe estava a ser feitas "eram de uma violência psicológica insuportável" é brincar com coisas sérias. É não ter a ideia do que seja realmente uma violência psicológica, que de facto existe em muitos países, e quase sempre sobre jornalistas. É não perceber que a sua atitude diz mais do que qualquer resposta. É não perceber que gesto tão indigno faz com que as perguntas ganhem, afinal, relevância. É não perceber que temos todo o direito de pensar que qualquer pessoa com a consciência totalmente tranquila nunca tomaria aquela atitude. É tudo mau: o que fez, como fez, como procurou justificar-se. Pobre povo, que tem nas mais altas instâncias da nação gente que não demora muito a agir como se estivesse numa rixa de rua.