Quando rebentou a notícia do seu afastamento da escola por ter posado para a Playboy, cedi ao lado mais galhofeiro, esqueci que se tratava, de facto, de assunto sério, por revelar mentalidades conservadoras e perseguição dos direitos individuais. Desde quando uma mulher que se deixa fotografar nua é menos capaz de ensinar? Senti-me acabrunhado nos dias seguintes, aqueles em que ia sabendo que você não queria sair de casa, não queria dar entrevistas, muito menos deixar-se fotografar: os dias em que parecia que toda esta polémica tinha sido o pior que lhe podia acontecer. Mas eis que (não sei precisar quanto tempo depois) rapidamente a realidade vira a agulha, e fica claro que a confusão gerou curiosidade, e assim passa a ser o melhor que lhe podia ter acontecido, senhora professora. Digo-o baseado nas primeiras fotos, em que a vemos a dirigir-se ao seu novo local de trabalho, o Arquivo municipal para o qual foi degredada. Com a polémica em brasa, com comentários jocosos sobre a maneira como se apresenta (lá estão os moralistas) eis que a senhora não escolhe nada mais do quem decote até ao umbigo, ponto alto de um vestido que revela as formas voluptuosas do corpo que comprou (você foi a primeira a admitir o óbvio: umas maminhas novas em folha, que melhoraram em seis copas a sua auto-estima). Cada qual veste-se como bem entende, não haja aqui confusão. Mas convenhamos que o que escolhe para se mostrar ao mundo logo após a polémica foi, em si, uma afirmação. A afirmação clara, vê-se agora, que para além de não estar minimamente incomodada com o que se passou, a senhora viu abrir-se a porta da fama que – vemos agora – sempre procurou, acima de tudo. Fama…e dinheiro. Porque não tarda a saber-se que exige não sei quantos milhares a quem a queira entrevistar. Pensaríamos nós que quem foi vítima da mais soez injustiça social gostaria de abrir o coração e contar a sua indignação a quem a quisesse ouvir, quanto mais não fosse como sinal de alerta para outras situações semelhantes. Mas eis que a senhora diz que só fala a quem estiver disposto a pagar – e bem – o que, perdoar-me-á, me faz pensar que sabia desde o primeiro minuto como gerir os acontecimentos. Chegados aqui, resta-me cumprimentá-la como cumprimentaria qualquer pessoa que tivesse um plano para levar por diante e o tivesse feito resultar. Que extraordinário investimento: deixar-se fotografar nua por umas míseras centenas, sabendo que grosso do dinheiro viria depois. Nem sequer tardou muito. Já a vemos, não completamente nua mas em versão parecida, a "animar" noites em discotecas, pagas ao milhar. Já a vemos, a senhora que não queria mais confusões e pedia que a deixassem em paz, nas mesmas poses curvilíneas em revistas de fim-de-semana da imprensa nacional. O plano resultou, senhora professora, e talvez esteja na altura de acabar com o discurso paralelo, aquele que utilizou para se revoltar, aquele que dizia que só queria continuar a ensinar os seus meninos em paz. Não há aqui nenhum crime, como é óbvio. Não posso, devo ou quero, acusá-la de nada. Deixe-me apenas registar a minha pena. Porque a senhora poderia ter sido um bom exemplo da perseguição mas absurda e moralista, e poderíamos citar o seu caso sempre que fosse ocasião de lutar contra o conservadorismo bacoco e perigoso que ainda gere muito Portugal profundo. Mas isso era se fosse uma professora que só quer fazer o seu trabalho, e não apenas mais uma compatriota ávida de holofotes, que vai amealhar enquanto pode. Aproveite pois a onda, porque não hão-de tardar outras Brunas.