Tenho saudades! Tantas! A agitação desta primeira semana aqui na África do Sul fez Portugal estar mais distante, apesar de serem poucas as ruas em que não há uma bandeira portuguesa. Foram 7 dias de "recruta" que à 3ª noite viveram um grande susto. No hotel onde eu, o Bruno e o Jorge estávamos e onde pernoitavam mais cerca de 20 colegas um grupo de assaltantes assaltou três quartos, levando todo o material e num dos casos usando da violência. A partir deste dia, o tema segurança subiu ao topo das prioridades no que à comunicação do Mundial concerne. A verdade é que se quando cá chegámos seguíamos os conselhos de segurança do consulado e da polícia portuguesa, a partir deste dia, os cuidados redobraram-se e a tensão passou a estar mais presente em cada passo e em cada acção. Conseguimos trocar de hotel, estamos agora instalados numa unidade que é mais protegida, a 1km da polícia local, em que há sensores com alarmes a circundar todo o terreno, em que dois seguranças fazem patrulha durante a noite e em que nos quartos portas e janelas têm grades do lado de fora, que se trancam durante a noite. Como a partir das 6 da tarde é noite cerrada, tentamos evitar fazer longas distâncias de noite e se as tivermos que fazer há uns semáforos que são – como costumamos dizer em Portugal – verde tinto. Não paramos e não arriscamos.
Cuidados Extremos
Se esta é uma preocupação aborrecida, desgastante, mas necessária, já em relação à equipa portuguesa os cuidados são extremos por parte das autoridades, sobretudo portuguesas, mas também sul-africanas. Durante esta semana houve um reforço da segurança em tornos dos "Navegantes", que a cada saída do centro de estágio para o local de treino – 10 minutos de caminho – são escoltados por cerca de 20 carros com polícias armados até aos dentes. Os jogadores estarão em segurança máxima durante todo o Mundial. O caso com os 3 futebolistas gregos que foram assaltados nos próprios quartos suspeita-se de que se trate dos empregados do hotel, que sendo trabalhadores a nível temporário, vêem no final da perspectiva laboral uma oportunidade para roubar bens de valor muito superior ao ordenado que recebem.
Segurança à parte, há toda uma outra dimensão do Mundial que é contagiante e é que deve prevalecer no final de contas e da qual deve ser realçada a simpatia e o entusiasmo com que os sul-africanos de um modo geral estão a viver este momento histórico deste continente tão fustigado pela história. No dia da abertura do Campeonado do Mundo, eu e o Bruno conseguimos, com alguma destreza, ter acesso ao interior do Soccer City, onde iria decorrer o primeiro jogo da competição entre África do Sul e México. Um momento inesquecível de festa de alegria pura, não me esquecerei mais daquele homem negro de olhos marejados de felicidade, que me disse ser um dos dias mais importantes que já viveu, testemunhando a união entre brancos e negros.
Vuvuzelas
Para não mais esquecer, são as vuvuzelas, que tanto têm dado que falar. Sei que em Portugal já há muita gente que não as suporta, mas qualquer comparação entre o que se ouve em Portugal e o que não se deixa de ouvir aqui, peca por escassa. Em qualquer rua, em qualquer bomba de gasolina, no trânsito, nos cafés, nas janelas, há uma vuzuela com respectivo dono a plenos pulmões como se quisesse que toda a África ouvisse. Nos estádios o sincronismo de dezenas de milhares desses brinquedos é ensurdecedor, mas passados uns minutos habituamo-nos porque só estamos a ouvir aquilo. Aliás nas horas seguintes só estamos a ouvir aquilo, quando formos jantar só estamos a ouvir aquilo e quando já estivermos quase a dormir é o som das vuvuzelas – que me explicaram era suposto reproduzirem o som de elefantes – que ecoará de forma dilacerante.
Mas não de forma tão marcante como a passada sexta-feira. Passo a explicar. Na manhã de sexta-feira, eu, o Bruno e o Jorge decidimos que o Alta Definição do dia seguinte – que já tinha um plano B – deveria passar a ter um plano A e nada melhor do que aproveitar o dia da abertura do primeiro campeonato do Mundo de futebol realizado em África do que testemunhar e gravar isso mesmo. Passadas 3 horas no caminho – 1 hora para chegar a Joanesburgo e 2 horas parados no trânsito gravámos o que já expliquei acima e voltámos a Magaliesburg, que é como quem diz atrás muito atrás do sol posto.
Televisão, cromos e estrelas
A noite, que tinha tantos graus como aquecedores, ou seja zero, foi passada a editar o Alta Definição Especial que acabaria por ser enviado por satélite para Lisboa, onde a nossa produtora Fátima Silva o recebeu e preparou para a emissão. Quem vê a emissão no ar, não imagina o que foi essa noite e não tem de imaginar. Como me disse uma vez o Zé Pedro Gomes: "uma pessoa quando está a ver bailado, não quer saber se aquele passo do bailarino foi difícil de conseguir ou não, quer é ver se o passo é bonito". Com a televisão é a mesma coisa.
Da África do Sul, dizer ainda que das três caixas de cromos que eu trouxe já temos quase a caderneta da Panini completa; que estou em grande disputa com o Jorge no Pro Evolution Soccer – o Bruno ainda não aprendeu a ganhar. Curioso, é que ainda não houve um só dia nesta terra que eu tivesse visto a lua, mas em contrapartida o céu à noite é brutal, iluminado de estrelas. Uma delas caiu mesmo em frente dos meus olhos, em chamas. Pedi o obrigatório desejo e abri uma revista, na primeira página dizia From South Africa with love. Apropriado. Vamos ter saudades!