Estou a escrever estas linhas quando ainda não faço ideia do que acontecerá no Portugal-Espanha. Já o leitor lerá estas linhas quando já todos soubermos se continuamos pela África do Sul, ou os rapazes já estão a embarcar, cabisbaixos, de regresso à pátria. Não sabendo o resultado do jogo, sei que não me agradou a preparação do dito. É por estas e outras que nos adianta pouco estarmos no pódio do ranking mundial, quando continuamos a comportar-nos como um intruso cheio de medo. Ainda não era conhecido o nosso adversário e já se ouvia o inevitável "todos, menos a Espanha." O seleccionador dava o mote antes do jogo com o Brasil, utilizando uma evidência que deveria ficar guardada no bolso: "o empate já seria um óptimo resultado." Sim, seria, como seria também para o Brasil, porque não lhes mexia com o primeiro lugar, mas de Dunga só ouvimos: nós jogamos sempre para ganhar. Agora acabaram-se as manobras tácticas de "isto basta". Ou ganhamos ou perdemos. Somos o tudo ou o nada, os heróis ou o bombo da festa, seja por um ou sete que vamos ao céu ou descemos à terra. Não sei o que aconteceu no jogo, mas enerva-me ao limite as habituais confissões de parente pobre. Ai, que eles são muito bons, ai, que eles são campeões da Europa. São, e daí? Não vimos saírem de lá humilhados os que jogaram a última final do Mundial? Se os jogos se resolvessem só com História e probabilidades, para quê perder tempo a organizar provas todos os anos? O que eu gostaria de ter ouvido e nunca ouço é que vamos esmagá-los, que são apenas um episódio na nossa caminhada para o objectivo, que não é uma honrosa meia-final, ou uma sonhadora presença na final, mas sim ganhar tudo até levantar o caneco. E alguém deveria explicar aos jogadores e ao presidente da Federação que rezaram para não nos sair a Espanha que o mais provável, num mundial, é andarem por lá equipas poderosas, e que será difícil andar a vida toda a tentar fugir delas… E que a verdadeira glória é ganhar nos confrontos com os grandes, é aí que nos afirmamos do mesmo tamanho ou maiores. Se é para estar sempre a tremer, a preparar já o discurso da derrota que-até-não-foi-muito-má-porque-jogámos-com-uma-equipa-muito-poderosa, mais vale, de futuro, não irmos. Se Portugal tiver passado, óptimo. Se Portugal tiver ficar pelo caminho, espero bem que os jogadores tenham feito tudo, mas mesmo tudo, para lutar com a alma que se espera. Perder não é vergonha. Fazer figura de triste medroso, sim.
2- Por falar em figuras tristes, espero que, no caso de marcar golo, o Simão Sabrosa não nos ofereça novamente aquele espectáculo vergonhoso de comemorar com a dança do anúncio do McDonalds. Já tínhamos tido por cá a pobreza franciscana do Jardel a levantar a camisola para mostrar a t-shirt onde fazia publicidade ao guaraná. Já isso tinha sido uma atitude pequenina, medíocre, mas ao nível do nosso pobre campeonato. Mas um jogador que enverga camisola do país levara para um Mundial um negóciozeco particular com os hambúrgueres é coisa que nunca tinha pensado assistir. È de facto uma pena que hoje em dia a camisola de um país pese tão pouco nos ombros. Pelos vistos, não o suficiente para fazer esquecer, por um momento, os cheques chorudos com que os jogadores se governam, e que parecem ser o verdadeiro motor da sua motivação.