Ao longo de oito anos, Lorosa de Matos viveu à grande, enganando e burlando quem lhe apareceu pela frente. Bem-falante e bem vestido, fez-se passar por tudo, encarnando inúmeras identidades. De engenheiro a inspector da Polícia Judiciária (PJ) “foi” tudo. Nestes anos, pelo menos duas procuradoras da República caíram na cantiga do Matos. Ambas com mais de 20 anos de experiência, arriscam agora uma sanção disciplinar. Para agradar às representantes da República, Lorosa de Matos fez-se passar por inspector da PJ. Como o amor é cego, uma das procuradoras acreditou nas suas lengalengas de tal forma que o assumiu no seu círculo pessoal. Apaixonada, juntou os trapinhos com Matos e passaram a viver juntos. Um estatuto que este aproveitou para ganhar credibilidade junto de outros… Quando a magistrada se apercebeu do logro em que caíra (descobriu documentos com as várias identidades do seu namorado) pô-lo fora de casa e denunciou-o às autoridades. Em dois meses, as equipas da Unidade de Combate ao Terrorismo da PJ, dirigidas por Luís Neves, devolveram-no aos calabouços da cadeia de Pinheiro da Cruz (em Novembro), onde tem (pelo menos) mais sete anos de prisão por cumprir. Uma fonte judiciária garantiu à tvmais que Lorosa de Matos tem “aberto a boca” de tal maneira que isso já fez com que a PJ tivesse de ouvir diversos procuradores, advogados e até um juiz. Mesmo preso, Lorosa de Matos tem o engenho e a arte de enganar.
“Sei onde está o Rui Pedro”
Estava Matos a cumprir sete anos e meio de prisão por burla qualificada (2003), no Estabelecimento Prisional de Pinheiro da Cruz, quando conseguiu enganar Rosário Teixeira, procurador da República. Convenceu-o de que sabia onde ir buscar Rui Pedro, o rapaz desaparecido de Lousada, em Março de 1998, e que a PJ nunca localizou (ver caixa). O procurador acreditou e intercedeu por ele junto do Tribunal de Execução de Penas. O recluso José António Lorosa de Matos conseguia assim uma saída precária da cadeia. Uma licença de cinco dias, tão especial que lhe permitia deslocar-se ao estrangeiro. Tudo porque iria na pista de Rui Pedro.
Mais uma burla
Lorosa de Matos garantia saber como levar a PJ ao Rui Pedro. Se o procurador da República acreditou, o avô de Rui também. Homem de posses, José Cândido Teixeira (faleceria em 2004), avô materno do rapaz desaparecido, deu a Matos um cartão de crédito ilimitado, um telemóvel de cada rede e um Volvo S80. Na posse de tudo isto, Matos saiu da cadeia a 26 de Junho de 2003 e pôs-se ao fresco, Claro. Nunca mais lhe puseram a vista em cima. Mestre da burla, José António Lorosa de Matos viveu os últimos oito anos em glória. Nada lhe escapou. Nem as procuradoras da República.
Mestre de burla
José António Lorosa de Matos, foi condenado a sete anos e seis meses de cadeia, em cúmulo jurídico, por vários crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, ameaça e extorsão, na região de Viseu. Estava obrigado a regressar a Pinheiro da Cruz em 1 de Julho de 2003. Saiu em precária e desapareceu. Foi recapturado em Novembro último.
Nota: Por vontade do autor, este texto não segue as regras do novo acordo ortográfico