“Não me agrada o que se está a passar, está em causa um assassinato. Tudo se passou em Janeiro passado e, por este andar, chegamos a julgamento daqui a um ano”, afirmou o juiz Charles Solomon, insatisfeito com o desentendimento entre defesa e acusação. “Se defesa e Procuradoria não se entenderem em relação ao acesso a todos os relatórios, teremos audiências todas as semanas”, disse o juiz. No Supremo Tribunal Criminal de Nova Iorque, as partes voltaram a defrontar-se e, de novo, se desentenderam. A procuradora, Maxine Rosenthal, voltou a afirmar que Renato Seabra deve ser julgado pelo homicídio do jornalista e a defesa insistiu na insanidade momentânea do aspirante a modelo.
Nega
Nesta última sessão (5 de Outubro), a procuradora de Nova Iorque informou que o relatório da análise psiquiátrica feita a Renato a pedido da acusação não está pronto [há outro relatório – (ver caixa)]. E alegou também, não ter tido tempo de concluir o relatório preliminar dos testes de laboratório às recolhas feitas no local do crime (análises de ADN entre outros). O advogado de defesa, David Touger, exasperou por não lhe ser facilitado o acesso a estes documentos. A consulta da gravação da avaliação psicológica feita a Renato foi recusada pela acusação.
Insanidade momentânea
Dissipando esperanças sobre um acordo entre defesa e acusação (ver caixa), o advogado do aspirante a modelo, disse à saída do tribunal que não aceitará qualquer proposta que não parta do princípio de que Renato não é culpado e que o que ocorreu se deveu a uma insanidade momentânea. David Touger, mantém que o seu cliente agiu num estado de insanidade mental e que, por isso, não deve ser considerado culpado. Este tipo de argumento raramente é utilizado (menos de 1%) nos casos criminais nos EUA. Quando chegam a julgamento só 25% têm sucesso. Se a estratégia de Touger tiver êxito, Seabra será internado num hospital psiquiátrico, sem tempo definido.
Mais Rikers Island
Vestindo T-shirt e jeans, algemado, de mãos atrás das costas, cabelo curto e mais gordo, Renato Seabra ouviu atentamente a tradução do que decorria na audiência. A próxima audiência de pré-julgamento ficou marcada para o dia 28 de Outubro. Até lá, medicado e a receber acompanhamento psiquiátrico, o jovem partilhará a cela com dezenas de outros reclusos, na prisão de Rikers Island.
Extradição
O Acordo de Extradição entre os EUA e Portugal, publicado em Diário da República de 10 de Setembro de 2007, não prevê extradições para crimes praticados nos EUA. Carlos Castro foi assassinado em Nova Iorque. Só a prova de insanidade mental de Renato pode ajudá-lo a vir para Portugal.
Acordos
A esmagadora maioria dos processos criminais em Nova Iorque são resolvidos através de um acordo entre defesa e acusação, sem se chegar a julgamento. Ao longo das audiências de pré-julgamento, as partes acordam sobre a definição do crime cometido e consequentemente sobre a pena a aplicar.
O outro relatório
É da autoria do psiquiatra Robert Harris e foi feito a pedido da defesa de Renato. A avaliação final deste perito é conjugada com os registos médicos do Hospital Roosevelt, onde o jovem se dirigiu na noite do crime (7 de Janeiro) antes de ser detido. Saber o que os médicos lhe deram a tomar pode ajudar a defesa que, assim, poderá argumentar que depois de tomar os medicamentos, Renato ficou sem noção do que estava a dizer no momento da sua confissão. É este o caminho da defesa psiquiátrica.
A morte de Carlos Castro
Às autoridades, Renato Seabra, 21 anos, confessou como matou e torturou Carlos Castro, com o intuito de o libertar de demónios e de vírus. Contou então que naquele 7 de Janeiro, agarrou o cronista pelo pescoço, por trás, atirou-o ao chão, enquanto lhe comprimia a traqueia. Deu-lhe com um monitor de computador na cabeça, pisou-lhe a cara e com um saca-rolhas atingiu-o na virilha, na face e cortou-lhe os testículos. Durante uma hora, disse, terá pontapeado e esmurrado Castro. Depois tomou um banho, vestiu um fato, infligiu ferimentos no seu próprio corpo e saiu. Na rua, vagueou até apanhar um táxi no terminal de Penn Station, próximo do Intercontinental Hotel. Pediu para ir ao Roosevelt Hospital, onde acabou detido. O relatório da autópsia feita ao corpo de Carlos Castro aponta as 14 h como hora da morte. Cinco horas depois, o cadáver foi encontrado pelo pessoal do hotel. A confissão de Renato Seabra terminou no domingo, 8 de janeiro, às 23.30 h de Nova Iorque.