Nada que se compare com os sobressaltos que vivemos na África do Sul, mas acomodação às rotinas de Opalenica, onde a Seleção Nacional estagia, não aconteceu nos primeiros dias. O facto de ser uma terra pequena expõe com maior clareza a boa vontade dos polacos, mas também a impreparação – e aqui incluo a Ucrânia – para receber um evento como um Campeonato da Europa. Palmilhámos quilómetros de carro até descobrir a conjugação de fatores que uniam um restaurante ao facto de estar aberto e disponível para servir refeições. Aos poucos, vamos dispensando o GPS e reconhecendo os rostos de quem nos recebe e com quem nos comunicamos como podemos, apesar de, tanto ucranianos como polacos, de Inglês só conhecem a bandeira. Na passada sexta-feira, acordámos às 4.30 h, viajámos até Munique, onde fizemos escala para seguir para Lviv, na Ucrânia, onde, ditou o sorteio, Portugal iria medir forças com Alemanha e Dinamarca. Mal aterrámos, sentimos que tínhamos entrado numa cápsula do tempo e recuado umas boas dezenas de anos: os autocarros são ainda elétricos na sua maioria, os táxis são carros particulares que escolhemos por intuição, uma das primeiras indicações que nos dão ao carimbar o passaporte é não falar com um polícia sem lhe pedir a identificação, conduzem-se carros com 40 anos que deixam uma cortina de fumo mais densa do que aquela que aqui se viveu durante a Guerra Fria. Curiosamente, nada disto invalida a imensa alegria que se sente nos olhos dos locais por estarmos a olhar para a terra deles, por sentirem que estão nas bocas do mundo. O Europeu não é só futebol, cada jogo tem hora e meia de espetáculo, antes e depois dos golos, nunca se fecha a cortina do espetáculo. Mesmo que insólito.