
1 Temos uma capacidade histórica para perder tempo com “polémicas” estéreis. Aliás, pelamo-nos por uma boa polémica. É sempre uma oportunidade para dizer mal de outros, criticar… e perder um bocadinho de tempo, talvez com um cafezinho e cigarrinho à mistura. O português adora a pausa no trabalho. Vamos então a duas discussõezinhas. Uma faz-me rir, a outra nem tanto. Comecemos bem-dispostos, analisando a transcendental polémica das advogadas sexies. Vai um sururu entre a classe jurídica por causa de um anúncio publicitário de um escritório em particular. Foi colocado na internet. E mereceu queixa de uns quantos doutores da profissão, que se mostram indignados com o que lá vem. Meu deus, advogados indignados uns com os outros? Deixa cá ver. Vi o vídeo. Mostra-nos a Rosário, cabeça da firma, mais a Liliana, Natália, Ana e Sara. Que pecados cometem, que tanto envergonha os colegas e a profissão? Fazem publicidade ao seu escritório, passeando-se por Lisboa. Ouve-se uma voz que diz “somos diferentes na forma como fazemos”. E as cinco desfilam, numa cuidada montagem de belos planos, quais divas da moda ou do cinema; olhares enigmáticos, uma pernoca aqui e ali, saltos altos em grande plano, saia travada, lábios sensuais, ancas bem ritmadas no passo decidido de executiva. Dizem os mal-humorados colegas: que é que isto tem a ver com advocacia? Pergunto eu: e que mal faz afinal à advocacia? A única coisa que retiro do anúncio é que se me dirigir ao escritório, é muito provável ser atendido por uma mulher atraente. Significa isto que é boa advogada, que a quero para me representar? Não necessariamente. E eu sou apenas um dos milhões de portugueses que não são necessariamente estúpidos. Que saberão distinguir entre um anúncio fora do comum e a sua eficácia para a profissão. Parece-me é que apresentar queixa por isto é, em certa medida, fazer dos portugueses estúpidos. Porque há um indisfarçável receio de que o anúncio todo giro tenha, de facto, repercussão. O receio de que a coisa resulte, e que as senhoras passem a ter o escritório cheio. E então? O trocadilho é fácil, mas aí vai: o tempo se encarregará de mostrar aos clientes se estão perante boas advogadas ou apenas advogadas boas. Os advogados devem insurgir-se em questões realmente importantes ou graves, que de facto envergonham a profissão. Como colegas suspeitos ou condenados por crimes, sejam mais ou menos graves. Tem havido a mesma pressa a condenar? As cinco sedutoras do tribunal limitam-se a aproveitar o mais estafado cliché: a executiva sensual que vemos nos filmes, que em cenas seguintes tira os óculos, desaperta a saia justa e abana os cabelos. E depois? Até os filmes mostram que muitas vezes são realmente competentes e profissionais. Não sei se estas são. Sei é que se devem rir nesta altura. Porque é mais um daqueles tiros que os portugueses não percebem logo que lhes vai sair pela culatra. Quem apresentou queixa porque não gostou dos efeitos do anúncio acabou por lhe dar um empurrão que as senhoras, digo eu, agradecem.
2 Já o disse várias vezes. Não frequento as tão badaladas redes sociais da internet. Mas como não sou surdo, percebi que houve grande sururu por causa de uma participação minha num sketch dos Gato Fedorento, exibido pela SIC. Não sei tudo o que se disse, comentou ou palpitou. Mas chegaram-me , naturalmente, alguns resumos. E concluo que teria tanto, mas tanto, tanto, para dizer…que não direi absolutamente nada. Não o direi, por um lado, porque desprezo a mediocridade dos recados que se mandam dizer. Sempre à distância. Não o direi, por outro, porque já tive oportunidade de conversar sobre o assunto com quem realmente me interessa ou merece o meu respeito e atenção. E falei da única maneira que gosto de falar. Olhos nos olhos. Quanto ao resto, aos outros todos, interessam-me um zero absoluto. Sei o que sou, sei quem sou. Sei que tenho a felicidade de haver muitas pessoas que sabem quem sou. Não é pouco, garanto-vos.