
A sensação que fica é que há um disco riscado na política, ou nas notícias sobre política. Passos Coelho e Seguro vão dançando a valsa da sedução-negação, sem fim à vista. Já não conseguimos contar quantas vezes ouvimos o primeiro-ministro convidar o líder do PS para um “entendimento tendo em vista o futuro do País”, porque “os compromissos a que o País está obrigado exigem uma coesão nacional dos partidos com vocação de Governo”, ou qualquer coisa como isto. Logo responde o PS que é um partido responsável, e que obviamente não virará as costas a um entendimento que proteja os interesses dos portugueses. Depois passa um tempo sem percebermos o que resulta disto, até que vem a notícia que finalmente Passos e Seguro se vão encontrar para conversar… Depois, à saída, o líder do PS diz que não, nem pensar, que o entendimento que o PSD sugere mais não é do que convidar o PS a ser cúmplice de uma política desastrosa, que tem arrastado o País e os cidadãos para uma insustentável manobra de empobrecimento. Pouco depois, o PSD reage, lamentando que, mais uma vez, o PS insista em manter-se à parte de um desígnio nacional absolutamente necessário em tempos tão difíceis. E assim por diante. A verdade é esta: os convites sucedem-se, os encontros lá se vão realizando, mas o resultado é sempre o mesmo. A sensação que fica é que o PS hesita aqui e acolá, mas acaba sempre por decidir não dar aos portugueses a imagem de um partido que em algum momento se colou à política de austeridade. Logo, a imagem de um partido que nos há-de tirar dela, com uma qualquer fórmula ainda não cabalmente explicada (ou entendida, pelo menos). A ideia base parece simples: temos vivido, sempre, num carrossel de alternância no poder entre os dois partidos. A história da democracia mostra, quase sempre, que ao PSD há-de acabar por suceder o PS, e vice-versa. Cada Governo enfrenta dificuldades tais que os que estão na oposição são normalmente vistos como a alternativa menos má. É talvez nesta lógica que o PS aposta, mais uma vez. Dar tempo ao tempo, permitir que o PSD se desgaste, para que os portugueses voltem a votar maioritariamente socialista. Bom, e assim parece encaminhado, mas… Primeiro, será curioso verificar os resultados das Europeias. Porque, por mais que nos queiram convencer da sua importância particular, funcionam sempre como um barómetro intercalar para os partidos, uma espécie de mega-sondagem. Os partidos são como os grandes clubes de futebol: podem participar em várias competições, mas o grande troféu é o campeonato. Ora, o grande troféu na política é, obviamente, a vitória nas legislativas. Porque significa poder, o que as Europeias não conseguem. Portanto, a correr tudo como previsto, ao PSD há-de suceder o PS. Mas, e se? A oposição bem martela na tecla da nossa terrível condição, atribuindo, obviamente, a culpa à coligação do poder. Mas quem governa encontrou também tecla para martelar: estávamos à beira do precipício e nós não vos deixámos cair. Como vêem, as coisas estão a melhorar, como nós dissemos. Será curioso, repito, ver qual dos argumentos vai pesar mais. Há muito que não havia período pré-eleitoral tão imprevisível.